A busca por cervejas com maiores volumes de lúpulos está atraindo cada vez mais produtores catarinenses a investir nessa cultura, como é o caso de Ivandro Antônio Peruzzo, o primeiro a implantar o cultivo em Timbó Grande, município do Planalto Norte de Santa Catarina. Em uma área de 0,5 hectare, a lavoura foi instalada em outubro de 2022 com 918 mudas de lúpulo das variedades Chinook e Cascade.

Ivandro relata que o investimento total foi de R$ 61 mil, sendo R$ 35,1 mil financiados com apoio do Fundo de Desenvolvimento Rural do Estado de Santa Catarina (FDR) e o restante com recursos próprios. O produtor implantou o cultivo por meio de uma parceria com a AmBev de Lages, que fornece as mudas e tem o compromisso de comprar a produção pelo prazo mínimo de cinco anos.

Segundo Ari José Galeski, extensionista da Epagri que acompanhou a implantação da lavoura, o lúpulo é uma cultura de exige muita atenção na escolha da área, além de uma correção da fertilidade solo.

“Após um diagnóstico bem feito do solo da propriedade de Ivandro, foram corrigidos os estoques de macronutrientes e de boro, além da correção do pH através do uso de calcário e cama de aves e complemento com adubo químico “, explica Ari Galeski.

Galeski acredita que o lúpulo tende a se tornar uma cadeia produtiva importante em Santa Catarina devido às condições climáticas – é uma cultura que gosta do frio – e à estrutura de propriedades familiares que o estado tem, já que demanda de pequenas áreas para ser implantada. “Isso em mencionar a imensa demanda nacional pelo produto, pois praticamente a totalidade é importada para a fabricação de cerveja, tão apreciada pelo povo brasileiro”, diz ele.

Um estudo da Epagri aponta que o cultivo de lúpulo em Santa Catarina apresenta riscos baixos a moderados, o que anima os produtores. A safra de 2022 estimou uma colheita de 10 toneladas em Santa Catarina, a maior parte proveniente do Planalto Serrano.

Esses números são possíveis por meio de parceria entre a Epagri, Ambev, Udesc e produtores rurais que incluem fornecimento de mudas, assistência técnica para conduzir o cultivo, garantia de compra da produção e industrialização do produto.

O lúpulo é uma cultura de alto valor agregado e não exige grandes áreas para o plantio. Em menos de um hectare, o produtor já pode obter um bom retorno financeiro.

Entendendo o lúpulo

Imagem: Divulgação/Epagri

O lúpulo contém uma substância chamada lupulina, que confere o amargor e o aroma da bebida. A planta é uma trepadeira da família Cannabaceae que gosta de frio. Por essas características, a cultura encontrou condições favoráveis no Planalto Serrano do Estado.

Segundo a Aprolúpulo, atualmente 20 propriedades rurais no estado cultivam o lúpulo em uma área de cerca de 20 hectares. No Brasil, a cultura ocupa cerca de 60 hectares e é conduzida por 180 produtores.

A cultura do lúpulo é perene, com um ciclo de aproximadamente de 15 anos. A planta tem capacidade de crescer em torno de 4,5 a 6 metros. O Brasil, apesar de ser o terceiro maior produtor de cerveja do mundo, atrás apenas da China e Estados Unidos, importa praticamente 100% do lúpulo utilizado nas cervejas.

Potencial em solo catarinense

Imagem: Mapa de risco climático para a cultura do lúpulo irrigado em SC. Imagem: reprodução, Epagri/Ciram

O estudo sobre os riscos climáticos para a cultura do lúpulo irrigado em Santa Catarina, realizado pela Epagri, aponta que ela tem possibilidade de cultivo em todas as regiões do Estado com riscos baixos a moderados, desde que observadas e respeitadas as práticas de manejo agronômico, orientações técnicas especializadas e fornecimento de água por irrigação, se necessário.

A pesquisa foi iniciada em 2021, atendendo à demanda de informações sistematizadas sobre o clima para a recente cadeia produtiva que está se estabelecendo no Estado.

“O lúpulo é uma cultura que vem se expandindo rapidamente pelo mundo devido ao aumento da demanda em função da popularização da produção de cervejas artesanais, a busca por cervejas com maiores volumes de lúpulos e à valorização do produto com procedência regional”, afirma a pesquisadora Cristina Pandolfo, uma das autoras do trabalho.

O estudo levou em consideração dados de bibliografias e informações obtidas de especialistas e de produtores, tomando-se como referência a fenologia média dos cultivos em Santa Catarina. O objetivo é que o estado futuramente possa produzir todos os insumos para a fabricação de cervejas 100% catarinenses.

A pesquisa tem autoria também dos pesquisadores da Epagri/Ciram Gabriel Berenhauser Leite, Luiz Fernando de Novaes Vianna e Elisângela Benedet da Silva, e do pesquisador da Estação Experimental da Epagri em São Joaquim, Felipe Ferreira Pinto.

Fonte: Canal SC