Foto: Escritora Cidinha da Silva/Crédito Lis Pedreira

Responsável pela autoria de 17 livros, transitando entre contos, crônicas, teatro, texto infanto-juvenil, de ficção e não-ficção, e com obras traduzidas para o alemão, catalão, espanhol, francês, inglês e italiano, a relevância de Cidinha da Silva é ímpar para o cenário literário brasileiro. É baseada nesta importante bibliografia que a escritora irá receber a homenagem Autor Contemporâneo do Festival Internacional Literário de Gramado 2024 (FiliGram), que acontece entre os dias 3 e 9 de junho.

Este ano, o evento traz a provocação “Qual o lugar da palavra?” como tema, uma pergunta que a autora consegue responder de maneira ampla e diversa, a partir de sua trajetória. “Por meio dela, somos capazes de incentivar, enaltecer, gerar saúde… mas também é possível provocar doenças, matar. Isso é observado a partir da intencionalidade da mesma, da forma e força com a qual ela é proferida e impacta diretamente no receptor da mensagem. Palavra é força, palavra é poder e o uso da palavra depende da nossa intencionalidade, da escolha que fizermos, do tipo de energia que colocamos naquilo que é falado”, pontua a homenageada.

Cidinha teve seu livro “Os nove pentes d’África” (Mazza Edições), em setembro de 2020, recomendado para uso por escolas públicas de todo o país para alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental. A obra, publicada há mais de dez anos, faz parte da bibliografia que tornou-a conhecida e lida, mesmo sem contrato com editoras em larga escala. Além desta conexão com o eixo temático do festival que trata da educação, ela também encontra sinergia com o FiliGram através de outro eixo temático: as viagens.

“Acredito que combina muito com o que eu escrevo. Entendo meu trabalho como uma literatura de trânsitos: entre lugares, entre mundos, entre visível e invisível. Observo que Um Exu em Nova York foi uma obra que utilizou este exercício criativo e serviu de esteira para outras tantas que pude ler depois, mas que, infelizmente, não recebi o crédito pela inspiração gerada”, comenta Cidinha.

Foram com duas recentes obras, Um Exu em Nova York (2018) e Exuzilhar (2019), que Cidinha percebeu de onde retira a inspiração para expressar sua palavra: nas temáticas de africanidades, ancestralidades, orixalidades e da tensão e diálogo entre tradições (africanas, afro-brasileiras, afro-diaspóricas e afro-indígenas) e contemporaneidade.

No contexto teórico-conceitual, a escritora gosta da classificação “autoria negra”, em que acredita ser a que melhor contempla o trabalho, já que resguarda sua alteridade. “Também me sinto confortável quando meu trabalho é alocado nas categorias literatura negra; literatura afro-brasileira e literatura afro-diaspórica”, acrescenta a autora.

Para Naiana Amorim, uma das curadoras do FiliGram, Cidinha é figura de destaque pelo extenso legado que já oferece a ‘nós, seus – quem sabe – contemporâneos’. E ainda reitera que a autora homenageada atua como “uma área internacional na encruzilhada dos tempos, inclusive no cotidiano. Diáspora e presente olhados nos olhos.”

Além da já anunciada homenagem In Memorian, concedida ao escritor Caio Fernando Abreu, o FiliGram deve anunciar em breve mais um tributo a outro nome do setor: o Prêmio Empreendedor Literário, entregue para expoentes do mercado editorial que buscam promover e manter a literatura como uma força cultural.

FiliGram
Em sua segunda edição, o Festival Internacionl Literário de Gramado – FiliGram – acontece de 3 a 9 de junho e irá abordar o tema “Qual o lugar da palavra?”. O evento traz provocações sobre os diferentes cenários da presença da literatura no espaço das artes e da sociedade como o cinema, a música, as viagens e o ensino.