Imagem: Vinhedos da Vitivinícola Santa Maria/Crédito: Ivanira Falcade

O último dia 1 de novembro está marcado como um dia histórico para a vitivinicultura mundial com o reconhecimento da primeira Indicação de Procedência de Vinhos Tropicais. A  concessão da indicação geográfica Vale do São Francisco foi feita pelo Instituto Nacional da Propriedade Intelectual (INPI), através de publicação na na Revista de Propriedade Industrial (RPI) nº 2704, baseada em requisitos equivalentes aos da União Europeia. Esta foi concedida por demanda do Instituto do Vinho do Vale do São Francisco (Vinhovasf), instituição privada, sem fins lucrativos, que congrega os produtores – viticultores e  vinícolas da região produtora de vinhos.

A partir de agora,  o vinho fino, vinho nobre, espumante natural e vinho moscatel espumante  elaborados pelas vinícolas:  Adega Bianchetti Tedesco (Bianchetti), Vinícola Vinum Sancti Benedictus (VSB), Vinícola Terranova (Miolo), Vinícola Terroir do São Francisco (Garziera),  Vinícola do Vale do São Francisco (Botticelli),  Vinícola Mandacarú (Cereus jamacaru), Vitivinícola Quintas de São Braz (São Braz) e Vitivinícola Santa Maria/Global Wines (Rio Sol), que estão dentro da região demarcada, e seguirem as normas contidas no Caderno de Especificações Técnicas, poderão utilizar o selo da IG em seus produtos.

“Este é um momento histórico e muito esperado pelos vitivinicultores da região, em especial aqueles estabelecidos no Vale do Submédio São Francisco, nos municípios pernambucanos de Petrolina, Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, além de Casa Nova e Curaçá, na Bahia”, destaca o presidente do Vinhovasf e da Valexport (Associação dos produtores e exportadores de hortigranjeiros e derivados do Vale do São Francisco, José Gualberto de Freitas Almeida.

A contribuição da pesquisa, conduzida por instituições de ciência e tecnologia, apoiou o setor produtivo ao longo desses anos, em parceria próxima e atenta às necessidades de fortalecimento da atividade vitivinícola regional. O Vale do São Francisco, com suas particularidades ambientais, disponibilidade de infraestrutura de irrigação, investimento em desenvolvimento científico e tecnológico apropriado às condições locais, mapeamento das oportunidades de mercado e empreendedorismo do setor produtivo, evolui com mais essa indicação geográfica, na expectativa de fortalecimento do desenvolvimento socioeconômico regional.

“Esta é uma grande conquista para a vitivinicultura brasileira, que só foi  possível a partir da parceria realizada entre instituições de pesquisa, ensino e setor produtivo. Juntos trabalhamos desde a caracterização do Vale do São Francisco e de seus produtos, fatores fundamentais  para a estruturação da Indicação”, destaca o pesquisador Giuliano Elias Pereira, da Embrapa Uva e Vinho. Ele liderou ao longo de cinco anos (2013-2018)  um projeto de pesquisa que envolveu mais de 40 pessoas de várias instituições, entre pesquisadores, professores, técnicos e estudantes, para entender a vitivinicultura do Semiárido nordestino e aprimorar a qualidade dos vinhos da região.

Para Jorge Tonietto, pesquisador da Embrapa que desenvolve projetos de estruturação de Indicações Geográficas (IGs) de vinhos brasileiros desde os anos 1990, esta IG  tem como diferencial sua localização geográfica – em zona tropical, e ser baseada em requisitos equivalentes aos da União Europeia: área delimitada, produção da uva na área, tipos de vinhos, tipos de uvas autorizadas, produtividade controlada, padrões enológicos definidos, elaboração na região, qualidade analítica e sensorial diferencial para os vinhos
e sistema de controle para atestar a conformidade dos vinhos.

Segundo explica Ivanira Falcade, pesquisadora aposentada da Universidade de Caxias do Sul responsável pela delimitação da área,  a Indicação do Vale do São Francisco protege vinhos originais, oriundos de uma região com uma particular geografia no contexto mundial. “A região apresenta  uma  paisagem vitícola emblemática, com os vinhedos irrigados pelas águas do São Francisco, com a caatinga e suas cactáceas no entorno, ou os morros testemunhos de formações geológicas pretéritas, que se destacam na planície, entre outros aspectos relacionados à cultura regional”, explica a pesquisadora.

A previsão é que os primeiros vinhos com a Indicação de Procedência estarão no mercado a partir de 2023, depois de passarem pelas análises exigidas e pelas sessões de avaliação sensorial às cegas, etapas fundamentais para que o vinho possa receber o selo.

O que esperar dos  vinhos tropicais na taça
Os vinhos tropicais do Vale do São Francisco são na sua maioria jovens, frescos, aromáticos, frutados e florais, e estão disponíveis ao consumidor em qualquer época do ano. Mas também são produzidos vinhos de guarda e mesmo vinhos nobres, com colheitas de uvas em períodos específicos do ano. Em função do clima quente ao longo do ano, é possível a produção de uvas e vinhos de janeiro a dezembro, com duas podas e duas safras anuais, com possibilidades de colheitas escalonadas ao longo do ano nas diferentes parcelas de vinhedos.

O carro-chefe da produção são os espumantes, com aproximadamente três milhões de litros por ano, seguidos dos vinhos tranquilos, com produção de cerca 1,5 milhão de litros anuais.

Os tipos de produtos autorizados na IP são os vinhos tranquilos brancos, tintos e rosés e vinhos espumantes brancos e rosés (bruts, demi-secs e moscatéis),  elaborados com 100 % de uvas produzidas na área geográfica delimitada. Foram autorizadas, para fins de elaboração dos vinhos, 23 cultivares de uvas Vitis vinifera L., indicadas pelos próprios produtores, pela adaptação e desempenho na região. As variedades autorizadas para a elaboração dos vinhos comerciais na IP VSF são:

Brancas: Arinto, Chardonnay, Chenin Blanc, Fernão Pires, Moscato Canelli, Moscato Itália, Sauvignon Blanc, Verdejo e Viognier.

Tintas: Alicante Bouschet, Aragonês, Barbera, Cabernet Sauvignon, Egiodola, Grenache, Malbec, Merlot, Petit Verdot, Ruby Cabernet, Syrah, Tannat, Tempranillo e Touriga Nacional.