Segundo pesquisador responsável, Calixcoca poderia estar no mercado em dois anos se garantidos os investimentos necessários

Desenvolvida pela UFMG para tratar dependentes de crack e cocaína, a vacina terapêutica Calixcoca ainda demanda recursos para cumprir todas as fase de testes em humanos e ser aprovada para o uso. O imunizante já foi testado em animais e recebeu prêmios. O assunto foi debatido nesta quarta-feira (16) na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Coordenador do Centro Regional de Referência em Drogas da UFMG, o pesquisador Frederico Garcia estimou que seriam necessários R$ 30 milhões de investimentos para que todas as etapas de aprovação da vacina sejam concluídas.

Conforme o cientista, garantidos esses recursos, a vacina poderia estar disponível ao mercado em dois anos. Nos testes em ratos, por exemplo, foi observada a produção de anticorpos anticocaína no organismo dos animais.

Garcia relatou que o projeto, surgido em 2012, traz um novo conceito, por se tratar de uma vacina terapêutica, e não de prevenção. Nesse sentido, esclareceu que o objetivo não é ter uma vacina que seja distribuída em espaços urbanos como aqueles conhecidos como cracolândia, e nem se sobrepor a outras formas de atenção ao problema.

Vacina para dependência de cocaína e crack concorre a prêmio de inovação  tecnológica - Faculdade de Medicina da UFMG

Foto: reprodução

“A vacina vai ser testada dentro das melhores práticas e sendo aprovada será usada em pessoas que estejam engajadas num programa de tratamento, com o objetivo de que possam prosseguir na abstinência. O intuito nunca foi o de usar ou distribuir a vacina de forma indiscriminada.”

Pró-reitor de Pesquisa da UFMG, Fernando dos Reis frisou que a vacina traz um imenso grau de inovação e pioneirismo na forma de seu desenvolvimento. Ele também destacou que há necessidade de novos aportes de recursos para que o projeto tenha garantia de continuidade.

Aporte
A subsecretária de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), Cláudia Leite,  classificou o projeto de desenvolvimento da vacina como arrojado e inovador e anunciou na audiência que o Estado investirá R$ 10 milhões para pesquisas clínicas da Calixcoca em humanos.

“A vacina é a esperança de milhões de pessoas e suas famílias”, disse ela, ao citar dados de 2019 do escritório de drogas da ONU, a Organização das Nações Unidas, apontando que 35 milhões de pessoas no mundo sofrem de dependência química e que somente uma em cada sete recebem tratamento.

Na América Latina, a cocaína é a droga ilícita mais relevante, ao passo que a dependência do crack afeta mais de um milhão de pessoas no Brasil, País que lideraria o ranking mundial nesse quesito.

Segundo outros dados expostos pela subsecretária, a produção de crack dobrou entre 2014 e 2019, sendo essa droga apontada como a causa mais prevalente de internações. O dependente em crack ainda teria uma chance de mortalidade sete vezes maior do que a do restante da população.