Imagem: Portela contou sua própria história na Avenida

A segunda noite de desfiles no Carnaval da Marquês de Sapucaí, no Rio de Janeiro, entre a noite de segunda-feira (20) e a manhã desta terça (21) trouxe histórias reais e imaginadas nos enredos das escolas de samba do Grupo Especial, com fábulas delirantes, historiografia e casos difíceis de acreditar. Os desfiles começaram com a curiosa chegada dos búfalos à Ilha de Marajó, contada pela Paraíso do Tuiuti.

A jornada dos animais contada pela escola começa na Índia e está relacionada ao comércio de especiarias para o Ocidente. Um navio com búfalos e temperos viajava do país asiático para a Guiana Francesa, mas afundou bem diante da costa brasileira, onde os bovinos conseguiram chegar como náufragos e se tornaram símbolo cultural. Um dos carnavalescos da Tuiuti, João Vitor Araújo jura que foi assim.

Centenária
O desfile de 2023 marca o centenário da Portela, a maior campeã da história do carnaval do Rio de Janeiro. A escola azul e branco de Madureira aproveitou a efeméride para visitar sua própria história, trazendo de volta cinco figuras marcantes, que no carnaval receberam o título de baluartes: o sambista histórico Paulo da Portela; a porta-bandeira Tia Dodô; o bicheiro e patrono Natal da Portela, e os cantores e compositores David Corrêa e Monarco.

Também azul e branca, a Vila Isabel falou das festas religiosas de diversas crenças, destacando não apenas a espiritualidade, mas a diversão que elas promovem. Estão no enredo festas pagãs da antiguidade, festas dos padroeiros religiosos, festas populares como o São João e celebrações com origem indígena como a de Parintins. O carnaval, é claro, não fica de fora e será o grand finale do desfile.

A literatura de cordel foi a grande inspiração da Imperatriz Leopoldinense para imaginar a chegada de Lampião à vida após a morte. Céu? Inferno? A Imperatriz contou que o cangaceiro não conseguiu abrigo em nenhum dos dois e voltou à Terra.

Imagem: Lampião foi celebrado pela Imperatriz Leopoldinense/Carl de Souza/AFP

Depois da jornada de Lampião após a morte, a Beija-Flor entrou na avenida falando de eventos históricos reais, mas nem sempre lembrados. A escola de Nilópolis contou a “verdadeira independência do Brasil”, em 2 de julho de 1823, quando soldados brasileiros derrotaram tropas portuguesas que ainda estavam na Bahia, mesmo após o grito de Dom Pedro I às margens do Ipiranga.

Os desfiles do grupo especial terminaram com uma homenagem da Viradouro a uma personagem pouco conhecida da história brasileira, Rosa Maria Egipcíaca, uma mulher africana nascida no Benin e escravizada no Brasil, onde viveu uma vida marcada também por visões, profecias e fé.

Imagem: Carros alegóricos e fantasias luxuosas foram apresentados pela Beija-Flor/Pedro Kirilos/Estadão Conteúdo

A escola de Niterói contou como a autora de Sagrada teologia do amor de Deus luz brilhante das almas peregrinas, livro do qual pouco foi preservado, causou a ira da Igreja Católica ao narrar experiências extrasensoriais com Jesus Cristo e mesclar suas raízes africanas aos ritos cristãos. Esse incômodo terminou em perseguição, e Rosa Maria foi presa e levada pela Inquisição para Lisboa, onde permaneceu até sua morte, em 1771.

Imagem: Viradouro fechou a noite com a história de Rosa Maria Egipcíaca/Carl de Souza/AFP

Fonte: Jornal O Sul