Muito antes de se tornar um dos principais cartões postais da capital francesa, acolhendo cerca de 13 milhões de visitantes todo ano, a Catedral de Notre-Dame esteve próxima de desaparecer. Pilhada durante o período da Revolução Francesa, chegou a ser transformada em depósito. O escritor Victor Hugo salvou a catedral.
Após ser devolvida ao culto, no século XIX, o seu estado de conservação era tão ruim que as autoridades pensaram em demoli-la. A ideia era utilizar suas pedras para a construção de novas pontes na cidade. Um crime contra o patrimônio histórico que só não aconteceu graças à popularidade do romance “Notre-Dame de Paris”, publicado por Victor Hugo em 1831.
O livro não tem a igreja como cenário por acaso. O escritor francês escreveu as suas mais de 900 páginas para salvar o edifício, que ele adorava. A construção do século XII era uma síntese da revolução estética e filosófica que o autor tentava promover.
Inspirado em Shakespeare, o romantismo de Hugo falava em unir o belo e o feio, o grotesco e o sublime. Algo que ecoa tanto na figura torta do corcunda Quasimodo como na arquitetura gótica da construção, na época uma corrente fora de moda e quase marginal. Hugo, por sua vez, via o gótico como um “livro de pedra”.
Apesar das críticas pontuais, o romance teve um sucesso estrondoso, que rendeu inúmeras adaptações para todos os formatos — da primeira peça de teatro, em 1832, ao desenho animado da Disney (“O corcunda de Notre Dame”), em 1996. Mas não foi unanimidade à época do lançamento. Seu anticlericalismo desagradou o Vaticano.
Na imprensa, o crítico e escritor Sainte-Beuve escreveu que faltava “um dia celeste nesta catedral; é como se ela fosse iluminada por baixo por respiradouros do inferno”. Duas das figuras literárias mais famosas da época também criticaram o romance. Balzac o chamou de “dilúvio de mau gosto”. Já Chateaubriand reclamou que, depois de lê-lo, não poderia mais rezar no local, tamanho o ataque que fazia à religião. Todos, entretanto, pareciam concordar em um aspecto: a igreja era o personagem principal da obra.
A história de Esmeralda, Frollo, Gringoire e Quasimodo reconciliou os parisienses com a catedral, que pouco após o lançamento do livro ganhou um projeto ambicioso de restauração. Anos mais tarde, voltando a Paris após um longo exílio político, Hugo pode enfim visitar o local restaurado — e louvou os trabalhos de resgate. No romance, o escritor havia trabalhado a ideia de ananke — o drama da fatalidade, que acaba alcançando os seus personagens, mas que parecia ter poupado a catedral.
O romance virou desenho da Disney, filme dirigido por Jean Delannoy, em 1956 e interpretação do ator Anthony Quinn como Quasimodo, além de inúmeras adaptações pelo mundo.
Fonte: OSul / Foto: Reprodução Internet