Estimulada a desvendar os avistamentos de objetos voadores não identificados (OVNIs), a agência espacial norte-americana Nasa divulgou, nessa quinta-feira (14/9), um relatório com detalhes acerca do número elevado de aparições intrigantes nos últimos meses. No entanto, a instituição informou que não há razão para concluir que exista o envolvimento de extraterrestres por trás dos avistamentos, geralmente feito por militares da aviação dos Estados Unidos, dos Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAP, sigla em inglês).
Mas você sabia que o Brasil também é palco de atividades desconhecidas no território aéreo? Para fazer um apanhado da vizualização de discos voadores, o Metrópoles consultou o relatório do Arquivo Nacional (AN) com exatos 743 casos registrados, entre 1952 e 2016. Todo o acervo liberado pelo Ministério da Justiça, em 2018, está disponível no site do AN.
Entre as milhares de páginas dos documentos, há arquivos com croquis dos modelos de OVNIs avistados tanto por civis quanto militares. Além de fotografias dos supostos objetos voadores, há imagens de fachos de luzes, mapas com o trajeto da movimentação e áudios da Forças Aérea do país.
Para ter acesso aos relatórios, áudios, fotografias e outros recursos do acervo, qualquer pessoa pode visitar a unidade do AN, em Brasília (DF), ou acessá-los pela internet, no site do Sistema de Informações do Arquivo Nacional (SIAN), onde todos estão digitalizados.
Vale ressaltar que a definição de OVNI refere-se a qualquer objeto que não teve sua origem confirmada, ou seja, nem todo OVNI pode ser considerado “extraterreste” ou “alienígena”. Eles podem ser drones, estrelas, satélites, balão meteorológico ou até mesmo um fenômeno natural.
Há suspeitas de que as imagens foram montadas. Porém, o técnico do acervo da Coordenação Regional do Arquivo Nacional (Coreg) no Distrito Federal e técnico em assuntos culturais do AN, Raynes Castro, não acredita na hipótese, porque “naquela época não existia manipulação de imagens como existe hoje”.
Noite Oficial dos OVNIs
A popularmente conhecida como “Noite Oficial dos OVNIs” ocorreu em 19 de maio de 1986. Na fatídica noite, os radares do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) detectaram pelo menos 21 objetos não identificados nos céus de Goiás, São Paulo e Rio de Janeiro.
O governo federal autorizou o uso de cinco aviões caça da Força Aérea Brasileira (FAB) para persegui-los, mas nenhum obteve sucesso. O uso das aeronaves de grande aporte militar ocorreu devido à alta velocidade dos “objetos luminosos”.
Há, inclusive, áudios descrevendo os acontecimentos dessa noite no site do AN. Em um deles, um piloto relata o que está diante dos próprios olhos: “Pô, eu não posso estar vendo coisas (…). Ainda bem que tem uma testemunha voando aqui”. O relatório oficial confirmou a aparição dos OVNIs. De acordo com os documentos, eles eram objetos sólidos e demonstravam “inteligência”.
Operação Prato
Habitantes do pequeno munícipio de Colares, no Pará, alegavam que OVNIs estariam sobrevoando os ceús da cidade. A Operação Prato, em alusão ao formato dos discos voadores, ocorreu entre 1977 e 1978.
A FAB investigou as denúncias durante quatro meses. O ufólogo Edison Boaventura afirma que as “populações ribeirinhas do Pará foram atacadas por raios luminosos”.
Esse caso segue como um dos grandes mistérios da ufologia, devido às circunstâncias consideradas “suspeitas”. “Quando solicitamos os documentos via LAI [Lei de Acesso à Informação] a Aeronáutica afirma que os documentos foram perdidos em incêndios, alagamentos, eu particularmente não acredito nisso”, disse Boaventura.
Caso VASP 196
Tudo começou quando o piloto do Boeing 727, Gerson Maciel de Britto, avistou um objeto não identificado voando à esquerda da aeronave na madrugada de 8 de fevereiro de 1982. Esse evento teve o maior número de testemunhas da história, 150 tripulantes.
O voo da Viação Aérea São Paulo (Vasp) partia de Fortaleza, no Ceará, em direção ao Rio de Janeiro. Até hoje, a origem do objeto é uma incógnita. Existem várias teorias, nas quais alguns acreditam que o suposto disco voador era na verdade Plutão.
Porém, Britto nega essa possibilidade. De acordo com relatos do piloto, o OVNI movimentava-se para cima e para baixo — trajeto incomum para um planeta.
Caso Feira de Santana
Em 15 de janeiro 1995, um ano antes do famoso caso do ET de Varginha, um suposto “disco voador” com duas criaturas teria caído em uma lagoa na zona rural de Feira de Santana, na Bahia.
Segundo o ufólogo Boaventura, a fisionomia de um dos “alienígenas”, que teriam sido capturados, assemelhava-se a um bicho preguiça “gigante”, devido à grande quantidade de pelos. Já a outra tinha olhos grandes e amendoados, com formato parecido de “pessoas asiáticas”, e teria sido encontrada morta.
As Forças Armadas foram até a cidade com helicópteros para investigar o caso. Conforme Boaventura, Feira de Santana sofreu com diversas “ameaças e intimidações contra fazendeiros e moradores”.
ET de Varginha
O caso mais famoso da ufologia do Brasil ocorreu na cidade de Varginha (MG). Em 20 de janeiro de 1996, um suposto OVNI caiu na cidade e um ser extraterrestre teria sido avistado por três meninas e depois capturado pelas força militares.
Naquele dia, Kátia Andrade Xavier e as irmãs Liliane de Fátima e Valquíria Aparecida Silva viram a criatura enquanto atravessavam um terreno no bairro Jardim Andere. O “ET” era baixinho e tinha olhos vermelhos e não parecia com nenhum animal conhecido.
“É um caso clásssico da ufologia nacional e internacional”, diz Boaventura. Ainda segundo ele, o incidente continua dando “pano pra manga” e revela que há novos relatos que comprovam a aparição de um alienígena.
Alguns ufólogos acreditam que o corpo do ET teria sido analisado em um laboratório da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Caso de Cláudio
Os céus da cidade de Cláudio (MG) foram sobrevoados por vários OVNIs, em 19 de novembro de 2008. As aparições foram registradas em um relatório e fotografias do policial militar Amilton Rabelo.
Segundo ele, a equipe foi acionada para lidar com a aparição de um “objeto luminoso” no meio de um matagal em Sobrado, próximo ao parque industrial da cidade.
“Depois de aproximadamente um quilômetro, nós avistamos, do lado direito da estrada, uma luz muito forte de cores amarela e branca que fazia o deslocamento sentido à direita de nossa posição”, relatou o policial. “Acredito que não estamos sós”, afirmou Rabelo em entrevista ao Ufovia.
ET Bilu
O caso do ET Bilu está entre os mais famosos do Brasil. A equipe de reportagem do programa Custe o que Custar (CQC) visitou o município de Corguinho, Mato Grosso do Sul, para entrevistar o suposto alienígena, emissor da enigmática mensagem: “Apenas que… busquem conhecimento”.
A equipe de reportagem conseguiu desmascarar a “farsa” defendida pelo fundador do Projeto Portal, Urandir Fernandes de Oliveira. Com auxílio de uma câmera de infravermelho o CQC revelou uma figura com fisionomia humana e de máscara no meio da mata.
Urandir tinha o costume de “desaparecer” quando a equipe de reportagem tentava entrar em contato com o ET Bilu.
O que diz a ufologia?
Com 42 anos de experiência e pesquisa na área da ufologia, Edison Boaventura, 56 anos, acredita que os casos de OVNIs nos céus do Canadá, da China e dos Estados Unidos não passam de “uma cortina de fumaça” para mascarar a tensão política entre as duas potências mundiais.
Ele acredita que os objetos avistados não são os mesmos estudados pela comunidade ufológica, mas sim “um balão espião”, como alega o governo norte-americano.
À época, chegou a pairar na internet a teoria do projeto Blue Beam — que sugere a criação de “falsa ameaça interplanetária” para justificar uma dominação global, com verniz de conspiração e dominação ideológica.
“Apenas a ponta do iceberg”
Boaventura afirma que o acervo disponibilizado para a população no Arquivo Nacional (AN) é apenas a “ponta do iceberg, uma pequena amostra do que eles encontraram”. Para o ufólogo, “eles [o governo] têm informações sobre outros casos de OVNIs, mas estão em outros arquivos considerados secretos e ultrassecretos”.
Desde que a Lei de Acesso à Informação entrou em vigor, em 16 de maio de 2012, Boaventura utiliza o recurso. Os pedidos da LAI e do Serviço de Informação ao Cidadão (SIC) feitos pelo ufólogo somam mais de 300 requisições de arquivos que “não estão disponíveis” no AN, de acordo com ele.
Contudo, não obteve muitas respostas “positivas”. Dos mais 300 pedidos, ele teve sucesso em 3% dos casos. O desejo de Boaventura é obter esses documentos de “forma legal”, uma vez que teve acesso aos contéudos “secretos” por meio de terceiros que “vazaram” o material.
Créditos: Metrópoles.