Instalado em Gramado (RS) e inspirado em castelos escoceses, o Hotel Saint Andrews, do empresário que fundou a CVC, completa dez anos mesclando luxo e tradição com as novas tendências do setor
Com quantos anos se constrói uma tradição? Olhando para o mercado da hotelaria de luxo, a impressão que fica é que são necessárias algumas décadas. Um ícone, o Ritz Paris estende seu tapete vermelho sobre a Place Vendôme desde 1898. Aqui mesmo, o Copacabana Palace está prestes a completar um século.
Mas se pensarmos que a tradição é legado, a idade pode ser apenas uma data no calendário. E o hotel Saint Andrews, situado na pitoresca cidade de Gramado (RS), deixou sua marca.
Completando 10 anos este mês, o empreendimento é – junto com o Txai Resort, de Itacaré (BA) – a única propriedade brasileira com o exclusivo selo Relais & Châteaux. E é um castelo no estilo escocês a cerca de 100 quilômetros de Porto Alegre.
Inspirada em castelos da região de Saint Andrews, na Escócia, a construção era residência de um casal de gaúchos que, quando se separou, colocou a propriedade à venda.
A separação aconteceu justamente quando o empresário Guilherme Paulus, fundador da operadora de viagens CVC, pensava em diversificar os investimentos.
“Quando o corretor me falou, achei impressionante. Em 2008, eu tinha feito uma viagem por pousadas de luxo em Portugal e ficado admirado com o Castelo Bussaco”, diz Paulus. “Foi quando comecei a pensar em reproduzir essa experiência.”
Instalado em uma área de 15 mil metros quadrados, o Saint Andrews tinha, então, seis quartos. Hoje, com uma nova ala construída em meio às montanhas, são 19 suítes. A decoração barroca das acomodações inclui papel de parede adamascado, painéis de madeira, roupas de cama florais e banheiros com mármore italiano.
Uma das luxuosas suítes do hotel Saint Andrews
Por lá, o chá da tarde é servido pontualmente nos jardins, às 17 horas, como manda a etiqueta britânica. Os festivais gastronômicos acontecem regularmente, e trazem da tradicional costela de chão gaúcha à alta gastronomia harmonizada com o champanhe Ruinart (jantar que custa cerca de R$ 5.000 por casal).
O perfume nos ambientes foi criado exclusivamente para o hotel e o cigar lounge é dedicado a aficionados por charuto. Já o spa tem tratamentos como a hidratação profunda com micropartículas de ouro 24 quilates e a boulangerie, de onde saem os pães e massas das pizzas servidos no hotel, é envidraçada.
A gastronomia se destaca. O restaurante Primrose, vencedor da edição 2021 do Prêmio Condé Nast Johansens, tem apenas cinco mesas e gastronomia franco-italiana, assinada pelo chef Fernando Becker, que passou pela escola Ferrandi, em Paris.
A adega, que pode ser reservada para jantares ainda mais exclusivos, tem três certificados de excelência pela Wine Spectator, revista americana que é referência no assunto.
Aqui, por sinal, cabe uma história curiosa. Para selecionar os primeiros rótulos, em 2010, Paulus buscou a consultoria de alguém que tinha o que os franceses chamam de savoir-vivre: Eduardo Guinle, primo-irmão de Jorginho Guinle. “Eu pensei: o que eu entendo do luxo e da arte de receber? Muito pouco. Então, procurei por ele, cuja família era um ícone do Copa”, conta Paulus.
A adega do hotel tem três certificados de excelência da revista americana Wine Spectator
Guinle ajudou a criar toda a etiqueta do castelo, a definir a contratação do chef, a escolher os talheres de prata, a compor a adega e até orientou os estudos iniciais para a criação do restaurante. “Eu acompanhei tudo de perto. Não tinha como não me envolver no processo”, ressalta o empresário.
Dez anos depois, Paulus segue no comando do castelo que é sua menina dos olhos. Com a mudança de comportamento do consumidor e a popularização de termos como staycation – algo como passar as férias na própria cidade – e room office, pela primeira vez na sua história, o hotel Saint Andrews está oferecendo day use.
Personalizado de acordo com os desejos do cliente, o day use custa a partir de R$ 600 e está aberto para, no máximo, cinco casais por dia. Ao menos dá um gostinho a quem não quer – ou pode – pagar as diárias que começam em R$ 2.900.
Outra tendência entre os viajantes, popularizado por plataformas como Airbnb e reforçado por conta dos cuidados necessários na pandemia, é o de alugar uma casa para passar as férias. Atento a esse movimento, Paulus planeja uma vila inglesa, que deve inaugurar até o fim de 2022.
À espera dos trâmites burocráticos da prefeitura de Gramado, o projeto inicial tem cinco casas, com quatro ou cinco quartos cada, e outros estabelecimentos, incluindo um pub.
No formato, será possível alugar a residência com serviços de café da manhã e refeições preparadas por um chef, ter à disposição uma locadora de automóveis e outras facilidades.
“Temos que pensar no que as pessoas querem”, afirma Paulus. “Afinal, vender viagens é vender sonhos. E isso é uma arte.”
Fonte: NeoFeed / Foto: Reprodução Internet