Cultura

Cia A Trupe Dosquatro apresenta remontagem do espetáculo "ISSO", em Bento Gonçalves

Foto: Cia A Trupe Dosquatro/Divulgação
Foto: Cia A Trupe Dosquatro/Divulgação

A Cia A Trupe Dosquatro, junto da Associação Centro Experimental de Novos Artistas, apresenta uma remontagem do espetáculo “descontruindo isso (experimento1)”. A apresentação será no próximo domingo, dia 01 de junho, na Sala Orlikowski da Fundação Casa das Artes de Bento Gonçalves. Serão duas sessões gratuitas na mesma data, uma às 18h00 e outra às 20h30.

Entre ausências e recomeços, a Trupe Dosquatro remonta o espetáculo com uma proposta híbrida e poética. Depois de encarar duas paralisações forçadas, primeiro pela pandemia da Covid-19 e depois pelas chuvas intensas que assolaram o Rio Grande do Sul, a companhia de teatro e dança ensaia mais uma vez o verbo recomeçar. E o faz do modo como sempre soube: com arte, sensibilidade e coragem criativa.

A companhia prepara a remontagem do espetáculo “ISSO – ou qualquer outra súbita palavra (coisa) poética que possa ser usada para dar nome a isso”, originalmente estreado em 2021. Desta vez, a encenação traz uma proposta híbrida, que une elementos presenciais e virtuais, desafiando as fronteiras da cena e da presença física.

Um espetáculo que (re)nasce da urgência

O espetáculo começou a ser concebido em 2019, quando a Trupe se preparava para comemorar seus 15 anos de trajetória com uma programação especial. Além de apresentações e performances locais, a companhia havia sido convidada para uma turnê internacional por Itália, Espanha e Portugal no ano 2020. No entanto, a pandemia interrompeu abruptamente todos os planos. A paralisação foi não apenas artística, mas também econômica. Todas as apresentações previstas para o ano — muitas delas remuneradas — foram canceladas.

Os trabalhos dos integrantes como professores de dança e teatro também foram suspensos. Sem nenhuma fonte de renda e ainda com custos fixos como o aluguel do espaço de ensaio, a Trupe viu-se diante do colapso. “Fomos atingidos em todas as frentes possíveis. Mas seguimos, mesmo que aos pedaços, com a certeza de que esse fazer artístico ainda nos sustentava emocionalmente”, comenta Edson Possamai, integrante da companhia.

Em 2021, a companhia conseguiu estrear “ISSO – ou qualquer outra súbita palavra (coisa) poética que possa ser usada para dar nome a isso”, um espetáculo que nasce da dificuldade de nomear sentimentos, de traduzir o afeto, o desejo e o bem querer. Agora, em 2025, a Trupe volta com uma remontagem que reafirma sua força resiliente e inventiva.

Foto: Cia A Trupe Dosquatro/Divulgação

A presença que se reinventa

No processo de remontagem emerge construindo ISSO (experimento 1) que propõe uma fusão entre o físico e o digital com um processo experimental. Parte do cenário será construída materialmente, enquanto outra parte será composta virtualmente, projetada em tempo real. O mesmo vale para os intérpretes: alguns estarão presentes no palco, outros atuarão de forma remota — com suas performances transmitidas ao vivo e integradas à cena por meio de projeções. Além dos diretores, estarão em cena as intérpretes Rosane Marchetto, Fernanda Moreira Rodrigues e Sinara Gnoatto.

A proposta surge de uma pesquisa cênica que a Trupe vem desenvolvendo sobre presença e ausência, e como elas se manifestam no contexto contemporâneo — principalmente após a pandemia, que escancarou as relações híbridas entre o real e o virtual. “Estamos interessados em entender como convivemos com o agora e com o que é projetado. O corpo presente, o corpo à distância, o que está e o que falta — tudo isso faz parte da narrativa que queremos explorar”, explica Edson.

Essa abordagem permite, inclusive, que o espetáculo aconteça simultaneamente em dois lugares diferentes, rompendo limites geográficos e propondo uma nova forma de se estar junto em cena.

Foto: Cia A Trupe Dosquatro/Divulgação

Reinvenção como resistência

A Cia A Trupe Dosquatro carrega, em sua trajetória, a marca da reinvenção. Mais do que resistir, o grupo tem buscado constantemente novas formas de criação, expandindo as possibilidades do teatro-dança e investigando as poéticas do cotidiano.

Com a remontagem de “ISSO”, a companhia não apenas celebra sua história, mas reafirma seu compromisso com a arte como espaço de presença — mesmo quando o corpo está ausente, mesmo quando tudo ao redor desaba. E assim, entre a precariedade e a poesia, a Trupe segue: dançando, dizendo, existindo — e nomeando aquilo que às vezes só conseguimos chamar de isso.

O projeto ainda conta com 04 oficinas de dança gratuitas para os Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos, e foi contemplado pelo PROGRAMA RETOMADA CULTURAL RS e o apoio da Funarte e do Ministério da Cultura “Esta proposta foi fomentada pelo PROGRAMA RETOMADA CULTURAL RS – BOLSA FUNARTE DE APOIO A AÇÕES ARTÍSTICAS CONTINUADAS 2024.”