Seja em telejornais, no universo da internet, a migração é tema da agenda das sociedades. Desde que se conhece a história do mundo, os fluxos migratórios são comuns entre as nações e entre as culturas. Este processo ocorre por diversos motivos, sejam eles econômicos, a busca de melhores condições, guerras, conflitos internos, que movem a geopolítica mundial. Dessa forma, abre-se portas em outros lugares para uma nova vida.

Partindo deste cenário que vivido intensamente desde tempos imemoriais, o Museu do Imigrante sedia a mostra “Ver o outro: Narrativas de mulheres imigrantes”, organizada por Franciele de Almeida Oliveira e com curadoria de Sabrina Moreira e Tatieli Sperry. A exposição faz parte do projeto “Movi, saberes e fazeres migrantes”.

Franciele comenta sobre o que é o projeto “Movi” que “tem como objetivo de compartilhar saberes e fazeres de diferentes coletivos, comunidades e grupos migrantes, com foco em suas trajetórias, histórias e contribuições para Caxias do Sul. A ideia surgiu em 2020 com os editais da Aldir Blanc como uma forma de estabelecer diálogo e conexão com as comunidades migrantes e imigrantes da cidade, por meio da Cultura e da divulgação dos seus saberes”.

De acordo com dados do projeto, em 2010, Caxias do Sul começou a receber senegaleses. Franciele estuda esse processo desde 2018 e traz para uma mostra um olhar feminino. O trabalho envolveu a produção de um audiovisual, lambes e as fotografias da mostra.

“Entre 2018 e 2020 realizei 23 entrevistas, em sua maioria com imigrantes e produzi meu TCC e dissertação com enfoque nas narrativas das mulheres. É comum olharmos para a imigração pela ótica masculina e a proposta da exposição é justamente olhar para as especificidades da narrativa feminina. Os registros que farão parte da exposição são parte desse acervo, desde o audiovisual produzido sobre as senegalesas em 2019, os lambes e as fotografias em 2022 por meio do FAC Visual”, ressalta Franciele.

“Ver o outro: Narrativas de mulheres imigrantes” foi realizado tendo como conceitos sobre a História Pública e a decolonialidade aliada a experiência estética. Dessa forma, trouxe releituras que evidenciam a inserção da cultura senegalesa em Caxias do Sul, na busca de um olhar feminino e da sua valorização.

“A grande referência foi a socióloga nigeriana Oyèrónkẹ Oyěwùmí. Para ela, ver é um convite para diferenciar, e na perspectiva ocidental este vai ser o sentido privilegiado. Por meio da visão, se determina e classificam os sujeitos e isso foi utilizado durante muitos séculos para justificar atrocidades contra os povos vistos como racializados. Mas através do ver, há também o contato com a pluralidade das diversas formas de ser cotidianas. Por meio da experiência estética, é possível compreender e ver no outro a si mesmo. Esse conceito da visão foi o que trouxe a fotografia para a pesquisa”, destaca Franciele.

De acordo com a museóloga do Museu do Imigrante, Deise Formolo, “a instituição museal é um espaço de diálogo e de releituras. Faz-se necessário termos olhares que evidenciam a pluralidade da nossa realidade e que faz essa ponte entre o passado e o futuro. A presente mostra expressa as novas cartografias que vivenciamos em nossas sociedades e essa convivência traz uma riqueza de vida e de tradições onde as gerações criam novas formas de perspectivas históricas”.

A exposição “Ver o outro: Narrativas de mulheres imigrantes” faz parte da programação do Dia do Patrimônio Estadual organizado pelo Museu do Imigrante e segue até o dia 23 de setembro.

Confira o site do projeto e da exposição: https://www.movisaberesefazeresmigrantes.com/