Desde 2021 dando visibilidade para comunidades por meio da arte urbana, o Mosaico na Quebrada chega ao Loteamento Millenium no próximo sábado, dia 16 de março. Esse será o terceiro território de atuação do projeto, que nasceu no bairro Euzébio Beltrão de Queiroz e já esteve presente também no Complexo Jardelino Ramos. O Mosaico no Millenium é financiado pela Lei de Incentivo à Cultura de Caxias do Sul (LIC), com apoio institucional do Instituto SAMbA, da Casa Fluência, do Instituto Quindim e da Amob Millenium, e apoio cultural de Caminho Rede de Ensino, Orquídea, Pisani, Marelli e Exacta.

Conforme a presidente do Instituto SAMbA, Jessica De Carli, o Mosaico na Quebrada nasceu a partir de uma ideia do Doutor e Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social Chiquinho Divilas, que tem vínculo com Beltrão de Queiroz. “O Chiquinho me procurou para criarmos juntos um projeto que, por meio da arte, das cores, desse visibilidade ao bairro. Nós começamos e não esperávamos ter resultados tão rapidamente, achávamos que era um projeto de década”, conta ela. Porém, a partir do forte engajamento da comunidade, o Mosaico acelerou e já entregou, naquele bairro, 51 artes assinadas por artistas caxienses e de outros lugares, 75 casas pintadas, duas escadarias e uma pracinha, que foi batizada de Mirante do Beltrão pelos próprios moradores.

A partir da visibilidade que o projeto e o Beltrão tiveram, a comunidade do Jardelino Ramos o conheceu e, então, propôs que fosse feita uma ação lá também, o que já aconteceu. Em 2023, a mesma situação se repetiu com o Millenium. “Com os resultados que fomos obtendo, entendemos que o Mosaico começa o processo e, se os moradores se engajarem, conseguem continuar sozinhos. Foi isso que o Beltrão nos mostrou, e então estamos indo para outros lugares iniciar o mesmo movimento”, acrescenta Jessica.

O presidente da Associação de Moradores do Millenium, Clóvis Barboza, também a procurou, a exemplo do que ocorreu no Jardelino. “Eu conheci o projeto do Beltrão e percebi que poderia ajudar também a nossa comunidade, porque precisamos de visibilidade aqui. Por exemplo, queremos fazer uma escada que una duas ruas e estamos nessa luta, acredito que o Mosaico pode nos ajudar a ter demandas atendidas, como já aconteceu em outros lugares”, ressalta.

Pela forte influência que tem na Zona Norte, a Casa Fluência foi convidada a integrar o projeto do Millenium como correalizadora. A cena hip hop é forte nessa região da cidade, e um dos pontos altos da programação será a batalha de breaking. “Vamos promover uma batalha kids de B-boys e B-girls com premiação de R$ 1 mil para o menino vencedor e para a menina vencedora. Uma premiação com esse valor para a categoria kids é a primeira vez que acontece no Rio Grande do Sul. Queremos mostrar que a cultura pode ser um lugar de profissão e oferecer dignidade”, explica Ge Break, um dos coordenadores da Casa Fluência. Para julgar a batalha, o projeto traz de São Paulo a B-girl Fran Killa, que integra a crew Killa Rockers Brasil e é referência internacional em breaking. Para narrar as batalhas, foi convidado o MC Pedrinho. As inscrições devem ser feitas na hora.

O breaking e o MC são dois elementos da cena hip hop, que conta ainda com o rap e o grafitti. Representando este último, que faz parte do DNA do Mosaico, os artistas Eti Black – Felipe Borges e Róger Zortéa estarão pintando dois muros durante a tarde de atividades. Em uma lateral do Centro Comunitário, Eti fará um desenho que simboliza a comunidade. “O Millenium tem uma bandeira que significa muito para os moradores e possui uma araucária desenhada. Vamos unir essa árvore com um desenho de mãos, buscando mostrar a união que existe naquela comunidade”, explica o artista.

Já Zortéa pintará o muro da casa de um dos moradores: Jocelito de Souza. Ao pensar no desenho, ele fez três pedidos ao artista: que tivesse uma mulher fotografando, em homenagem à filha, Bárbara Kuster, que trabalha com foto; a sua gata, Mel; e a interação da parada de ônibus que fica em frente da casa com a pintura. “Minha casa fica na esquina, tem 10 metros de frente e 20 de profundidade, é um muro grande e vai ficar muito bonito com um desenho”, conta ele, que vive na Rua da Conquista, nome dado pelos moradores pelo significado que teve a mudança para esse loteamento, há duas décadas. “Eu costumo ouvir o que o morador quer, avaliar o tamanho do muro e o tempo que eu tenho. Como ele pediu que a parada de ônibus interagisse com o desenho, pensei na chuva caindo e a parada protegendo o gato”, explica Zortéa. Ele adianta que começará a pintura alguns dias antes, para que, no dia 16, quem estiver por lá consiga vê-la já praticamente pronta.

Além de ter contato com todas essas formas de arte, a comunidade e todos que quiserem participar da ação no Millenium ainda terão a oportunidade de ler e ouvir histórias. O Instituto de Leitura Quindim participa do projeto com um espaço de leitura, para que crianças, jovens e suas famílias tenham acesso a bons livros. “Queremos ampliar ainda mais a imaginação dessas crianças e oferecer esse contato próximo que o livro traz entre o adulto e a criança, essa relação de afeto que é ler um livro de forma compartilhada”, explica o presidente do instituto, Volnei Canonica.

Integrada ao projeto Quindim pela cidade, que começou em 2022, essa participação no Mosaico Millenium reforça a importância que o instituto dá para o uso dos espaços públicos. “O acesso precisa ser descentralizado, estamos no centro da cidade, no coração, mas nos enxergamos como um polvo que precisa estar com seus tentáculos em todos os lugares”, acrescenta Canonica. Da mesma forma, o Mosaico na Quebrada passa a abrir cada vez mais os seus, levando cor, arte e visibilidade para diferentes lugares de Caxias do Sul.

Serviço
O quê: Mosaico Millenium
Quando: 16 de março
Horário: a partir das 14h
Onde: Centro Comunitário do Loteamento Millenium, na Zona Norte
Quanto: gratuito e aberto a todos que quiserem participar