Filmes

Festival de Gramado consagra "Cinco Tipos de Medo" com quatro Kikitos

Foto: Xamã e Bella Campos em cena do filme "Cinco Tipos de Medo", de Bruno Bini.
Downtown Filmes / Divulgação
Foto: Xamã e Bella Campos em cena do filme "Cinco Tipos de Medo", de Bruno Bini. Downtown Filmes / Divulgação

53º Festival de Cinema de Gramado consagrou o filme de suspense: Cinco Tipos de Medo. Ambientada em Cuiabá, no Mato Grosso, a produção ganhou quatro Kikitos na premiação realizada na noite deste sábado (23), no Palácio dos Festivais: melhor filme, ator coadjuvante, para o rapper Xamã, roteiro e montagem — ambos assinados pelo próprio diretor, Bruno Bini. Esta é a segunda conquista consecutiva de um título do Centro-Oeste em Gramado — no ano passado, triunfou Oeste Outra Vez, de Goiás.

Foto: Xamã, o diretor Bruno Bini e a produtora Luciana Druzina com os quatro Kikitos de “Cinco Tipos de Medo”. Cleiton Thiele / Agência Pressphoto / Divulgação

Ainda sem data para estrear nos cinemas, Cinco Tipos de Medo é um thriller sobre as vidas de cinco personagens. Marlene (Bella Campos) é uma enfermeira que ficou desempregada depois da pandemia de covid-19. Sapinho (Xamã) é líder do tráfico de drogas no bairro Jardim Novo Colorado. Luciana (Bárbara Colen) é capitã do Bope. Ivan (Rui Ricardo Diaz) é um advogado que tem uma filha prematura ainda internada no hospital. E Murilo (João Vitor Silva) é um jovem violinista.

O ponto de partida da ciranda é um ataque a tiros à casa de uma dessas pessoas. A partir daí, Bruno Bini faz pequenos recuos no tempo narrativo e revisita cenas para mostrar como as cinco trajetórias se conectam, se cruzam e se chocam, emparedando seus personagens com dilemas morais, refletindo sobre como a violência urbana contamina e ilustrando nossa busca por redenção em meio à dor. O trabalho meticuloso na montagem valeu o primeiro troféu da cerimônia no Palácio dos Festivais.

Parecia um prenúncio da noite estrelada, mas já a partir da segunda categoria a distribuição dos prêmios passou a gerar suspense sobre qual seria o ganhador do Kikito de melhor filme na escolha do júri formado pelo ator Edson Celulari, pela atriz Isabel Fillardis e pelos cineastas Sergio Rezende, Fernanda Lomba e Petrus Cariry. Como na trama do próprio Cinco Tipos de Medo, houve idas e vindas, surpresas e reviravoltas.

Papagaios somou duas vitórias, em direção de arte (Elsa Romero) e desenho de som (Bernardo Uzea, Thiago Sobral e Damião Lopes). A Natureza das Coisas Invisíveis também recebeu dois Kikitos, o de trilha musical, para o chileno Alekos Vuskovic, e o de atriz coadjuvante, para Aline Marta Maia. Esse foi um dos momentos mais emocionantes. Enquanto a atriz era levada ao palco na sua cadeira de rodas, a equipe do belíssimo filme da diretora Rafaela Camelo gritava o seu nome: “Aline! Aline! Aline!”.  

O Kikito de ator coadjuvante provocou um triplo empate na corrida: deu Xamã, de Cinco Tipos de Medo, seu primeiro trabalho de atuação. Em uma brevíssima fala — “Nem preparei discurso”, justificou —, o rapper celebrou sua mãe, Sônia Aparecida, sua avó e os povos originários do Brasil: “Cem por cento território indígena!”.

A categoria de melhor fotografia incluiu um quarto filme na disputa, um atestado da ótima seleção dos curadores Marcos Santuario, Caio Blat e Camila Morgado nesta edição do Festival de Gramado. O júri laureou Renata Corrêa, que em Nó exerce “um olhar cuidadoso e sensível para as pessoas, para os gestos e para os detalhes”, disse a diretora Laís Melo. No prêmio seguinte, Cinco Tipos de Medo tomou a dianteira: Bruno Bini venceu como autor do melhor roteiro.

Já no Kikito de melhor atriz houve talvez a única surpresa da cerimônia. E foi uma surpresa dupla. Primeiro pela vencedora, Malu Galli, de Querido Mundo, que na opinião de boa parte da crítica — vide os aplausos tímidos — estava pelo menos um degrau abaixo de outras duas candidatas: Saravy, de , e Denise Fraga, de Sonhar com Leões. Segundo porque, pelo telão, pudemos acompanhar a hora em que Malu, durante gravações da novela Vale Tudo, recebeu a notícia.

Logo depois, Nó conquistou mais dois Kikitos, o de melhor direção, para Laís Melo, e o prêmio da crítica. Nesse momento, três filmes tinham três troféus cada: Cinco Tipos de Medo, Nó e PapagaiosA Natureza das Coisas Invisíveis também ganhou seu terceiro, o Prêmio Especial do Júri — que ficou o tempo todo nas mãos da atriz mirim Laura Brandão, 11 anos, com o rosto em lágrimas tanto no palco quanto depois, na sua poltrona, tamanha a sua emoção (eu chorei junto, muito). Mas essa conquista sinalizou que o título não levaria o principal Kikito.

O júri popular concedeu o quarto Kikito a Papagaios, para orgulho do diretor estreante em longas Douglas Soares: “Queríamos dialogar com o público”. Será que os jurados coincidiriam com a plateia, como aconteceu em 2023, com Mussum: O Filmis, em 2020, com King Kong em Asunción, e em 2019, com Pacarrete? Será que Laís Melo repetiria a façanha do diretor de Pacarrete, Allan Deberton, e de Laís Bodanzky, que em 2017, com Como Nossos Pais, também fez dobradinha nas categorias de melhor filme e melhor direção?

Todos os premiados no Festival de Gramado

  • Melhor filme da mostra de longas nacionais: Cinco Tipos de Medo (MT), de Bruno Bini 
  • Direção: Laís Melo, por Nó (PR)
  • Ator: Gero Camilo, por Papagaios (RJ)
  • Atriz: Malu Galli, por Querido Mundo (RJ)
  • Roteiro: Bruno Bini, por Cinco Tipos de Medo 
  • Fotografia: Renata Corrêa, por 
  • Montagem: Bruno Bini, por Cinco Tipos de Medo 
  • Trilha musical: Alekos Vuskovic, por A Natureza das Coisas Invisíveis (DF)
  • Direção de arte: Elsa Romero, por Papagaios
  • Atriz coadjuvante: Aline Marta Maria, por A Natureza das Coisas Invisíveis
  • Ator coadjuvante: Xamã, por Cinco Tipos de Medo
  • Desenho de som: Bernardo Uzeda, Thiago Sobral e Damião Lopes, por Papagaios
  • Prêmio Especial do Júri: A Natureza das Coisas Invisíveis, de Rafaela Camelo 
  • Menção honrosa: Sonhar com Leões (SP), de Paolo Marinou-Blanco
  • Melhor Filme pelo Júri Popular: Papagaios, de Douglas Soares 
  • Melhor Filme pelo Júri da Crítica: , de Laís Melo 
  • Melhor documentário: Lendo o Mundo (RN), de Catherine Murphy e Iris de Oliveira 
  • Menção Honrosa em documentário: Para Vigo Me Voy! (RJ), de Lírio Ferreira e Karen Harley

Fonte: GZH