O vinho francês, particularmente o de Bordeaux, está em plena crise. Muitos viticultores (cultivadores de videira) da célebre região do sudoeste da França, são vítimas do colapso do consumo da bebida. A solução encontrada para enfrentar as dificuldades foi a de diminuir a produção com a destruição de milhares de hectares de vinhedos, de acordo com um plano anunciado pelo Ministério da Agricultura francês.

Em janeiro deste ano, nada menos que 1.320 produtores disseram estar em dificuldades, quase um terço dos 4 mil profissionais do departamento da Gironde, onde é produzido o vinho de Bordeaux, segundo a Câmara de Agricultura local.

De acordo com o órgão, mais de um quarto dos viticultores que atravessam esta fase difícil pretendem pôr fim a suas atividades e arrancar completamente as suas vinhas. Mas como Bordeaux, principal região produtora de vinhos da França conhecida mundialmente, chegou a este ponto?

Com a queda da demanda interna do vinho tinto, os volumes produzidos foram muito elevados e os preços despencaram. Diante das dificuldades, o setor buscou soluções. Uma adaptação na produção, arrancando as parreiras e reduzindo as plantações, foi escolhida.

Para evitar a superprodução, no total, 9.500 hectares devem ser arrancados. Um número calculado pela Associação Interprofissional do Vinho de Bordeaux há vários meses para adaptar a oferta à procura.

Subvenções
Até agora, os viticultores de Bordeaux solicitaram subvenções para arrancar aproximadamente 8 mil hectares, dentro de um plano de ajuda do governo, anunciado na véspera do Natal pelo Ministério da Agricultura.

O mecanismo, no valor total de € 57 milhões (R$ 306 milhões) aprovado em novembro pela Comissão Europeia, oferece um incentivo de € 6 mil (cerca de R$ 32.240) por hectare arrancado.

A crise de superprodução do vinho de Bordeaux começou após a pandemia de Covid-19 e não parou de se agravar e acabou se tornando uma crise social, deixando os produtores em situação precária.

Segundo um relatório da Câmara de Agricultura, mais de um milhão de hectolitros de vinho não encontraram comprador. Em 2022, foram vendidos apenas 4 milhões de hectolitros, dos 5,5 milhões produzidos. Como resultado, os preços caem e as poucas transações são feitas a preços ridículos que não permitem aos viticultores recuperar os custos de produção.

Mudanças de hábitos de consumo
As razões que explicam a crise são conjunturais como a inflação, a guerra na Ucrânia, o aumento dos impostos americanos aos vinhos franceses, mas sobretudo o fechamento do mercado chinês em 2020 com a Covid-19. A China era, há dez anos, o principal destino das exportações de Bordeaux. O mercado chinês representava uma garrafa em cada cinco consumidas.

Há trinta anos, o setor decidiu direcionar estrategicamente a produção da denominação Bordeaux tinto para os países emergentes, antecipando uma queda no consumo de vinho ocidental, uma importante causa estrutural.

Em 60 anos, os franceses reduziram o consumo de vinho em 70%. O vinho de mesa do dia-a-dia foi gradualmente suplantado pelo consumo ocasional de garrafas de maior qualidade.

Segundo um estudo publicado em 20 de dezembro, realizado pela FranceAgriMer, organismo francês encarregado de produtos agrícolas e da pesca do Ministério da Agricultura, e pelo Comité Nacional de Interprofissões de Vinhos com Denominação de Origem e Indicação Geográfica, em 2022, apenas 11% da população consumiu vinho todos os dias ou quase todos os dias. Esse dado significa cinco pontos a menos que em 2015.

Esta tendência não deve se inverter, já que as vendas nos supermercados (50% do total comercializado) caem todos os anos. Em 2022, tiveram uma queda de 15%. A cerveja tornou-se a bebida alcoólica mais popular entre os jovens e as famílias de baixos rendimentos francesas.

Fonte: Uol