Imagem: Divulgação/Crédito Gabriel Santos

O orgulho de ser colono do bento-gonçalvense saiu do interior e desfilou em pleno centro da cidade no domingo (04), em uma demonstração de valorização e exaltação de suas origens. O público ocupou os dois lados da Rua Marechal Deodoro, na Via del Vino, para acompanhar o Desfile Cultural da 18ª Fenavinho.

Os distritos de São Pedro, Faria Lemos, Vale dos Vinhedos e Tuiuty promoveram uma verdadeira integração comunitária – um dos grandes legados da primeira Fenavinho, surgida em 1967. Eles também desenvolveram um espetáculo sobre a própria história de Bento Gonçalves, alicerçada no trabalho e na fé, uma herança deixada pelos imigrantes italianos da qual a cultura da uva e do vinho moldou o progresso da cidade.

Pela primeira vez, o Desfile Cultural contou com uma pré-agenda desde o final da manhã com atrações musicais e atrativos enogastronômicos. Na parte da tarde, antes de o corso começar, uma carreata anunciando a 145ª Festa de Santo Antônio abriu a emocionante programação que estava por vir. Na avenida, os distritos de São Pedro, Faria Lemos, Vale dos Vinhedos e Tuiuty deram um show de representação para recriar os primórdios do município a partir das particularidades de cada distrito.

Livres para contarem suas histórias, mais de 600 moradores ocuparam o coração da cidade por pouco mais de uma hora para, com seus saberes e fazeres, vestimentas e artefatos de trabalho, usos e costumes, emocionar o público e recontar uma saga vitoriosa que teve início quase 150 anos atrás.

São Pedro

Formado por seis comunidades, São Pedro foi o primeiro distrito a desfilar. Para contar a história da localidade, que pouco depois do início da imigração, em meados de 1890, já acumulava estabelecimentos como serraria, alambique, moinhos movidos por rodas de água e fábrica de queijo, quatro alas e quatro carros passaram pela avenida.

A primeira ala trouxe a chegada dos imigrantes, enquanto o primeiro carro exibiu pedras e madeira utilizadas para as moradias rudimentares dos primeiros habitantes. O segundo carro mostrou a diversidade de ofícios, principalmente os ligados à agricultura, mostrando atividades na roça com as videiras e com plantações como as de milhos, além de trabalhos manuais com vime e dressa (palha de trigo).

A música e as danças como sinônimo de alegria e válvula de escape dos dias difíceis ganharam relevância no terceiro carro, que trouxe a herança cultural que se formou nos salões comunitários, geralmente ao redor de uma igreja. Integrantes do Coro Caminhos de Pedra, do Grupo de Dança Folclórica Caminhos de Pedra e da Banda Musical São Pedro, tocando “Mérica, Mérica”, formaram a terceira ala a passar na avenida. O vinho também foi homenageado com um carro com pipas e a simulação da pisa das uvas, com pessoas da comunidade logo atrás distribuindo vinho para os espectadores.

Para encerrar a passagem da comunidade, o principal atrativo turístico do lugar, o Caminhos de Pedra, foi o destaque Patrimônio histórico do Rio Grande do Sul, o roteiro completou 30 anos de atividades em 2022 e conta com 28 pontos de visitação, recebendo uma média de 100 mil visitantes a cada ano. Integrantes dos estabelecimentos do roteiro compuseram a quarta ala do desfile.

Faria Lemos

Na sequência, Faria Lemos contou a história da localidade que começou a ser colonizada em 1877 por imigrantes vindos de regiões como Tirol, Vêneto e Lombardia, sendo reconhecido como distrito em 1925. Um dos pontos destacados pelos moradores no início do desfile foi a religiosidade, exaltando a padroeira do distrito, Nossa Senhora do Rosário. A imagem da santa ganhou a avenida ao lado de maquetes da torre-mirante da localidade, feitas por estudantes para comemorar os 48 anos da estrutura.

As atividades recreativas e culturais de Faria Lemos, formado por 15 comunidades, também foram enaltecidas. Atualmente, a localidade mantém a Orquestra de Sopros e o Grupo de Dança da Linha Paulina, que aproveitou para apresentar uma performance. Claro que a economia do distrito, baseada na agricultura, e com suas vinícolas, agroindústrias e fábricas de móveis, passeou pela avenida, rendendo um dos grandes momentos do desfile: a distribuição de vinho e pãezinhos ao público ao som da tarantela napolitana.

Foi o prenúncio para encerrar a passagem do distrito em alto estilo, destacando os filós da comunidade em que causos, jogos, comidas e cantorias permeavam a alegria dos colonos – tudo rememorado pelo Coral Trevisani nel Mondo, que cantou no meio da avenida.

Vale dos Vinhedos

A sequência do Desfile Cultural da Fenavinho trouxe à avenida o Vale dos Vinhedos. Criado em 1990, o distrito começou a receber os primeiros imigrantes em 1876. O acontecimento foi encenando pela primeira ala, que mostrou os imigrantes na Cittá Bianca, fazendo referência às barracas de lençóis improvisadas no lote 30 da Linha Leopoldina que recebiam os novos moradores. Um dos destaques da passagem do distrito mostrou a influência dos trentinos no resgate à memória do folclore, expressada na figura do Sanguanel e de outros seres.

A segunda ala evidenciou a religiosidade, um elemento central na vida do imigrante. Atores da Encenação da Paixão de Cristo Vale dos Vinhedos escoltaram os representantes das capelas do Vale dos Vinhedos, que carregavam as bandeiras de seus santos padroeiros. O segundo carro a passar na avenida reverenciou o talento musical da localidade, com o Coral Vale dos Vinhedos, e a tradição esportiva no futebol da comunidade. Ícone da comunidade, o escritor Remy Valduga (1940-2022), que retratou a saga imigrante em sua obra, foi homenageado pela comunidade com a presença de seus familiares.

No encerramento do desfile, o Vale dos Vinhedos prestou homenagem ao vinho e destacou o trabalho das mulheres na base de sustentação das famílias, com a presença das soberanas atuais e de outros tempos do distrito. E, num momento de congraçamento com a comunidade, representantes da Associação das Comunidades do Vale dos Vinhedos e da Aprovale distribuíram a bebida símbolo de Bento para o público degustar.

Tuiuty

As cores finais do desfile foram dadas pelo distrito de Tuiuty, cuja história remonta a 1875, com a chegada dos imigrantes da região do Tirol à localidade, formando a comunidade Addolorata (primeiro nome do local).  Com a representação dessa chegada ocorrida na primeira ala, a seguinte trouxe à tona o desenvolvimento a partir da estrada Buarque de Macedo (antiga Estrada Geral), com a passagem de comerciantes e viajantes, tendo a balsa sendo vital no transporte dos passageiros. Em nome do progresso, a ponte Ernesto Dornelles acabou sendo construída, sendo hoje cartão-postal de Bento Gonçalves. Ambos foram representados no criativo desfile da comunidade, com carros trazendo um Fusca como se estivesse em cima de uma balça e uma grande maquete da famosa ponte entre Bento e Veranópolis.

Criado em 1971, o distrito também guarda outro ponto histórico. A linha férrea que passa por Tuiuty e segue até as cidades de Vacaria, Passo Fundo e Santa Maria, construído pelo Batalhão Ferroviário. Essa passagem ganhou caracterização por meio de um carro emulando um trem, inclusive soltando fumaça, e por outro lembrando o trabalho dos soldados, com uma alegoria em formato de túnel.

A comunidade ainda apresentou um carro simulando um forno para assar pão e moradores distribuindo pedaços de torta tirolesa, símbolo gastronômico do distrito, além, claro, de vinho. A última ala apresentada pelo distrito, formado por 14 comunidades e com cerca de 3,5 mil moradores, destacou as potencialidades turísticas da região, com seu roteiro Vale do Rio das Antas. A rota é formada por vinícolas e empreendimentos de agroindústria com base familiar e traços predominantemente rurais, sobretudo no estilo de vida e gastronomia, proporcionando aos turistas experiências com a natureza e com a cultura típica da região.

Desfile agrega novos destaques

Além de integrar, entreter e alegrar a comunidade, a passagem dos distritos pela avenida serviu para uma comissão julgadora avaliar o desfile a fim de compor importante nota na soma que definirá o campeão dos Jogos Coloniais da 18ª Fenavinho. Os vencedores das oito provas da competição em seus respectivos distritos se encontram, no dia 13 de junho, na Vila Típica, na final da competição. O distrito que somar mais pontos nos jogos e no desfile será considerada a campeã do torneio.

O Desfile Cultural contou com a passagem de um carro da Embrapa. A empresa de pesquisa completa 50 anos de fundação em 2023 e está presente em Bento Gonçalves desde 1975, com a unidade Uva e Vinho contribuindo ativamente para o desenvolvimento da vitivinicultura nacional. Na avenida, a Embrapa passou com o carro alegórico “Do laboratório à sua mesa”.

Assim como ocorre tradicionalmente, o carro da Fenavinho encerrou o desfile. Com a pipa da festa na carroceria, o tradicional veículo passou distribuindo vinho e o carinho e a alegria da corte da 18ª edição da Fenavinho, a Imperatriz do Vinho, Ana Paula Côrtes Foresti, e as Damas de Honra, Thaís Dall’Osbel Centenaro e Liege Sobirai, além do mascote da festa, o zombeteiro Tasta Vin, e de lideranças municipais.

Se a passagem do carro da Fenavinho marcou o encerramento do desfile, a festa continuou na Via del Vino. A cantora bento-gonçalvense Inês Rizzardo ainda entoou canções típicas italianas, dando fim a uma festa que teve início às 11h, com a apresentação do Grupo Ricordi D’Itália e dos corais de Tuiuty. Quem foi à Via del Vino ainda pela manhã contou com os serviços de vinícolas – Porão do Vale, Videiras Carraro, Casa Zottis, Piccola Cantina, Cainelli, Gallon Sucos, além da Embrapa – e de estabelecimentos gastronômicos – Di Bartolomeu, Artesanale, Vallen Burguer, Natalina Cavalet, Forneria Rústica, Nosso Churros, Geleias Ivani e Pipoca.

Fenavinho agora é na Vila Típica

O Desfile Cultural demarcou o ato final da Fenavinho antes de ela se materializar como Vila Típica, entre os dias 8 e 18 de junho, no Parque de Eventos, ao lado da 31ª ExpoBento. Nesse espaço que reproduz antigos vilarejos do início do século passado, apresentações culturais, ofertas gastronômicas, cursos de degustação de vinhos e o inédito Bodegão, criado para abrigar tradicionais atividades como carteado e dressa, farão a festa dos visitantes, que ainda terão, claro, grandes vinícolas comercializando vinhos e espumantes.

Desde março, a Fenavinho promoveu, por meio do CIC-BG, uma série de atividades envolvendo suas comunidades e integrando toda cidade. Foram duas edições do Vinho Encanado, uma em março e uma em maio, ambas apresentando novidade: o Tortelaço – Festival do Tortéi. Em abril, duas grandes programações ganharam evidência:  a cerimônia de escolha da corte e o início da etapa distrital dos Jogos Coloniais.