Dá para curtir o carnaval 100% sóbrio?
Nesta época de carnaval é pico da venda de bebidas etílicas, porém, segundo Paulo Petroni, diretor geral da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja, esbarra na diminuição do consumo do produto entre brasileiros de 18 a 34 anos
Em tempos de folia, há quem duvide que alguém consiga manter o pique num bloco de rua sem beber uma cervejinha gelada. Nyle Ferrari, no entanto, prova o contrário. A criadora de conteúdo, que tem 30 anos e já passou seis carnavais completamente sóbria, afirma não ficar para trás quando o assunto é se divertir no feriado.
“Amo essa época do ano, vou para todos os blocos, fico até o fim, e curto como todo mundo. Por não me alcoolizar, meu corpo fica muito mais apto à festa, com mais energia para aproveitar o dia seguinte”, diz a paulistana, que decidiu pela abstenção de álcool durante todo o ano para melhorar a saúde física e mental.
“Não dosava a quantidade e sofria com a ressaca, a indisposição, o inchaço e a dor de cabeça. Também ficava mais ansiosa e triste, depois que a euforia passava”, relata.
Comprovando crenças, o mês do carnaval, de fato, é a época de pico da venda de bebidas etílicas, segundo Paulo Petroni, diretor geral da Associação Brasileira da Indústria da Cerveja. “Em fevereiro, a estimativa é de que seja produzido mais de 1,2 bilhão de litros do produto”, conta ele. O dado, no entanto, esbarra na diminuição do consumo de álcool entre brasileiros de 18 a 34 anos, se comparados às gerações anteriores, como apontou o Relatório Covitel de 2023. André Carvalhal, que pesquisa sobre comportamento, observa que essa tendência se deve a alguns fatores, entre eles a adaptação do mercado à criação de drinques não-alcoólicos. “Isso facilita demais para pessoas que seguem nesse movimento”, comenta o pesquisador.
Disposição física e mental, atenção às potenciais situações de risco — como brigas em aglomerações, acidentes de trânsito e casos de assédio — e melhora no desempenho sexual são algumas das vantagens enumeradas pelo psiquiatra Ricardo Patitucci sobre a decisão de não consumir álcool durante a “festa da carne”.
“Não nascemos sob efeitos de substâncias que alterem nossa consciência, portanto, é completamente possível que alguém consiga se divertir sóbrio. O indivíduo curte com muito mais qualidade, porque não vai sofrer com desidratação e outros problemas a curto prazo, como piora da coordenação motora e reflexo”, aponta o médico.
O problema é que, muitas das vezes, a pessoa que opta por passar o carnaval sóbrio acaba encarando certa pressão dos amigos e do próprio ambiente para tomar um drinque ou outro.
A psicóloga Marcely Quirino observa que, especialmente nesta época do ano, há uma tendência de “comportamento de manada”, em que o indivíduo se inclina a fazer algo para se espelhar. “É desafiador estar em um local no qual todo mundo bebe, mas é preciso ter posicionamento diante dessa situação, ter conhecimento sobre quem é, o que escolheu para si e o porquê, para conseguir resistir às tentativas de fazê-la voltar atrás.”