Foto: Beto, como era conhecido, deixa um legado irretocável no cenário cultural bento-gonçalvense. (Arquivo Pessoal)

Uma das mais importantes trajetórias da cena musical de Bento Gonçalves terminou de ser escrita na quinta-feira (13). A morte do músico Gilberto Valduga, aos 80 anos, ficou marcada por muitas lembranças, emoção e harmonia. Beto, como era conhecido, deixa um legado irretocável no cenário cultural bentogonçalvense.

Valduga sofria com o diagnóstico de Alzheimer desde o início de 2023. A saúde se complicou mais após uma cirurgia para resolver uma hérnia de disco. A recuperação foi complicada em função de comorbidades.

A trajetória musical de Beto Valduga começou em 1958 quando, influenciado pelo fervilhante cenário musical da época, se uniu a Fausto Michelin, Aristides Bertuol Filho e Mário Ferrari para formar o ‘Gilberto Valduga e Seu Conjunto’. O historiador Ademir Antônio Bacca lembra quando tudo começou:

“Gilberto Valduga foi um dos grandes nomes da música de Bento Gonçalves. Ele participou do terceiro conjunto musical criando em Bento, que foi a sua banda, quando tinha 16 anos”, conta.

O grupo se destacava ao mesclar o repertório com o emergente rock’n roll, realizando apresentações na boate do Clube Aliança e em festas particulares. Pouco tempo depois, a dissolução do Conjunto do Plínio levou Daltro de Abreu a convidar Gilberto e Fausto para formar o Conjunto Arpége. Este novo grupo se tornaria um dos mais influentes na animação de bailes no Estado, mas se separaria em 1963.

“O grupo dominou a cena de bailes do Rio Grande do Sul no fim dos anos 1960 e em toda década de 1970. Após, por divergências internas, com a troca de vários membros, o conjunto, que chegou a incorporar a palavra Internacional ao nome, chegou ao fim”, frisa Bacca.

Posteriormente Valduga, junto a Joênio De Fáveri, Pedro Biasus e Renato Gabriel, formou o I Satelitti, cuja breve existência incluiu uma memorável apresentação no Auditório Araújo Viana, em Porto Alegre. Mesmo com o fim dos grupos, Gilberto não parou. Participou do Conjunto do Pedrinho e, por seis meses, integrou o Nelson e Seu Sexteto, de Porto Alegre.

Em abril de 1964, a fusão dos músicos do Arpége e do Miramar deu origem ao Arpége Show. Com esta nova formação, Gilberto (guitarra e voz) e seus colegas conquistaram notoriedade, animando os principais bailes do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, e acompanhando a evolução musical global. “Na carreira, Beto Valduga fez diversas apresentações fora do país, passou uma temporada tocando no Uruguai e na Europa”, recorda o historiador.

“Um diferencial do Beto era seu domínio de línguas, ele cantava, perfeitamente, em português, inglês, francês e italiano. Era um músico muito completo pela habilidade com instrumentos e harmonias, além de uma voz fantástica. Bento perde uma grande página da sua história musical”, emociona-se Bacca.

Lições de amizade e talento
Amigo de infância, Alfredo Cousandier Filho, conhecido como Dinho, se diz estarrecido com a morte do amigo, ainda mais por estar em viagem e não poder se despedir. “Muito triste pelo falecimento. Temos uma história de amizade muito bacana, éramos vizinhos quando jovens. O Beto foi uma grande figura do cenário musical, deixa uma história linda e de sucesso”, lamenta.

Camila Farina, musicista de muito talento, lembra dos ensinamentos e da amizade que tinha com Beto após 24 anos dividindo palcos com o músico. “Ele me ensinou muita coisa na música, cantei ao lado dele bolero, tango, música italiana, tínhamos um repertório vasto. Muitos shows, muitas cidades conheci por acompanhá-lo. Ele sempre foi muito carinhoso com todos os músicos que passaram pelos palcos com ele. Sempre atencioso e um grande amigo. Fica um carinho enorme e com certeza vai fazer muita falta”, considera.

O irmão de Camila, Cassiano Farina, também passou pelos palcos tocando seu contrabaixo ao lado de Beto Valduga. Ele salienta a empatia, profissionalismo e dedicação ao trabalho. “Beto Valduga deixa uma marca profunda na música bentogonçalvense. Tive a oportunidade de tocar em algumas apresentações com ele no Arpège Internacional. Sempre foi um músico muito talentoso e solícito, fazia questão de ensinar harmonia para músicos mais jovens. Fica aqui meu abraço a todos os familiares, principalmente ao Lelo (filho), um amigo de longa data”, descreve.

Beto Valduga deixa a esposa, Dirce Arioli Valduga, os filhos Marcelo e Felipe e os netos Helena, Bernardo e Isabella. A cerimônia de despedida foi na tarde de quinta-feira (13), na sala A das Capelas São José de Bento Gonçalves. O adeus foi dado em cerimônia de cremação, no Memorial Crematório São José, em Caxias do Sul.