Foto: Reprodução Folha de São Paulo/Crédito Mauro Pimentel/AFP

Beija-Flor de Nilópolis confirmou seu favoritismo e conquistou o título de campeã do Carnaval 2025, levando para a avenida um desfile em homenagem a um dos maiores nomes da escola e da história do samba: Laíla, morto em 2021, vítima da Covid-19.

Com essa vitória, a Beija-Flor chega ao seu 15º título e continua como uma das maiores vencedoras da história, atrás apenas de Portela (22) e Mangueira (20).

A Grande Rio ficou em segundo lugar, e a Imperatriz Leopoldinense em terceiro.

O desfile marcou a despedida do intérprete Neguinho da Beija-Flor do Carnaval, após 50 anos de serviços prestados à escola de samba da Baixada. Ele afirmou que encerrou a trajetória no Carnaval, mas seguirá a carreira de cantor.

O enredo sobre Laíla foi criado pelo carnavalesco João Vitor Araújo, 39. Foi o primeiro título do artista no Grupo Especial.

Neguinho cresceu na Beija-Flor e a Beija-Flor só pôde crescer porque havia Neguinho. O intérprete chegou à escola em 1975 para defender o samba de 1976. Ainda era chamado de Neguinho da Vala, onde brincava em Nova Iguaçu (RJ).

O enredo daquele ano, “Sonhar Com Rei Dá Leão”, ideia do carnavalesco Joãosinho Trinta, era uma fábula contada através dos animais do jogo do bicho. O samba era de autoria de Neguinho. Foi o primeiro título da Beija-Flor.

Até 1976, a Beija-Flor, escola bancada pelo bicheiro Anísio Abrahão David era adesista: realizou três enredos seguidos com temas vinculados à ditadura militar. A partir de 1976, passou a falar de universos lúdicos, de problemas sociais e da herança africana no Brasil.

Neguinho conquistou 15 títulos, contando 2025, e muitos outros Carnavais que não levaram troféu, mas ficaram marcados, como o “Ratos de Urubus” de 1989, vice-campeão. Para Neguinho, este é o samba mais marcante da carreira.

Neguinho da Beija-Flor carrega o troféu pela vitória no Carnaval 2025 no Rio – Bruna Fantti/Folhapress

Líder até o fim

Na apuração, Grande Rio, Imperatriz e Beija-Flor entraram como favoritas, mas a Grande Rio perdeu décimo em bateria e ficou para trás.

Até o sétimo quesito, Imperatriz e Beija-Flor estavam empatadas na liderança. Samba-enredo, penúltimo quesito, tirou décimo da Imperatriz e fez a Beija-Flor desgarrar para o campeonato. A cada 10 recebido pela escola, Neguinho da Beija-Flor comemorava com gritos e aplausos.

A Beija-Flor é a maior campeã do século 21, com nove títulos, entre eles um tricampeonato — 2003, 2004 e 2005 — e um bi — 2007 e 2008. A escola da Baixada Fluminense não faturava o Carnaval desde 2018.

Como foi o desfile

Homenageado no carnaval de 2025, Luiz Fernando Ribeiro do Carmo, o Laíla, foi o maior conhecedor dos meandros de um desfile de escola de samba no Carnaval moderno. Salgueirense assumido, começou na escola vermelha e branca na década de 1970, mas foi o herói de títulos na Beija-Flor, onde tinha o poder de influenciar todas as etapas: a escolha de samba, o estilo do carnavalesco, a harmonia e a evolução da escola.

Umbandista, conhecedor de ritos do candomblé e devoto de santos católicos, Laíla inspirava a fé nos orixás e entidades: recorria a charutos e marafos antes dos desfiles para abrir os caminhos.

Na Sapucaí, entrava com olhar sereno e um tanto marrento, com o pescoço envolvido por diversas guias de proteção. Outra característica era andar arrastado na “sandália rasteira” mencionada no samba-enredo.

A Beija-Flor encantou o público e os jurados com alegorias carregadas de detalhes luxuosos e beleza plástica. A revoada de beija-flores representando a eternidade do homenageado foi um dos momentos mais impactantes da noite. O carro tinha uma enorme escultura realista de Laíla, segurando suas contas.

Laíla participou do até então último campeonato da Beija-Flor, em 2018. Logo após a apuração, desabafou à imprensa, chateado com possíveis intervenções externas, especialmente de Gabriel David, filho do patrono Anísio. Gabriel hoje é presidente da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba).

O desfile, calcado na religiosidade de Laíla e a relação com o Carnaval, serviu como marco de pazes entre o ídolo e a Beija-Flor. A escola de Nilópolis o homenageou e homenageou a si própria, no último elemento alegórico: a reprodução do famoso Cristo Mendigo, carro de 1989 que desfilou coberto por lona preta após a igreja católica entrar na Justiça pedindo a proibição.

No desfile de 1989, a Beija-Flor pôs sobre o Cristo coberto a faixa “Mesmo proibido, olhai por nós”. O carnavalesco Joãozinho Trinta e Laíla assumiam para si a ideia da faixa. Desta vez, a faixa “Do Orum, olhai por nós”, era acompanhada por um sósia de Joãozinho Trinta e um sósia de Laíla desfilaram juntos, representando a união dos dois genioso craques.

No carro de som, Neguinho embalou a escola nilopolitana pela vez derradeira.


O RANKING DO CARNAVAL 2025 NO RIO – GRUPO ESPECIAL

  1. Beija Flor
  2. Grande Rio
  3. Imperatriz
  4. Viradouro
  5. Portela
  6. Mangueira
  7. Salgueiro
  8. Vila Isabel
  9. Unidos da Tijuca
  10. Tuiuti
  11. Mocidade
  12. Unidos de Padre Miguel – rebaixada

Fonte: Folha de São Paulo