O ator americano Kirk Douglas morreu nesta quarta-feira, 5, aos 103 anos. Quem confirmou a informação foi seu filho, o também ator e produtor Michael Douglas, em uma rede social.

“É com tremenda tristeza que meus irmãos e eu anunciamos que Kirk Douglas nos deixou hoje aos 103 anos”, escreveu Michael, no Instagram. “Para o mundo ele era uma lenda, um ator da era do ouro do cinema que viveu para além dos seus próprios anos dourados, um humanitário cujo comprometimento com a justiça e com as causas em que acreditava criaram um padrão para todos nós”.

“Mas para mim e para meus irmãos Joel e Peter ele era simplesmente nosso pai, para Catherine, um maravilhoso sogro, para seus netos e bisnetos seu avô amoroso, e para sua mulher, Annie, um marido maravilhoso”, disse ainda Michael.

“A vida de Kirk foi bem vivida, e ele deixa um legado para o cinema que vai sobreviver por gerações, e uma história como filantropista reconhecido que trabalhou para ajudar o público e trazer paz para o planeta”, afirma a nota. “Deixe-me terminar com as palavras que lhe disse no seu último aniversário e que para sempre permanecerão verdadeiras: Pai, eu te amo muito e sou muito feliz de ser seu filho.”

A vida de Kirk Douglas
Kirk Douglas nasceu Issur Danielovitch numa localidade chamada Amsterdam, próxima a Nova York, em 1916. Viveu 103 gloriosos anos e virou um ícone de Hollywood. Foi um ator de grandes papéis, um produtor audacioso e até um diretor competente.

A essa altura, você deve estar pensando – quem é esse cara? Pois foi com o pseudônimo de Kirk Douglas que Issur se tornou conhecido. Teve um filho que também adotou o pseudônimo e, como Michael Douglas, prosseguiu a tradição artística familiar. Michael até ganhou o Oscar de melhor ator – por Wall Street, Poder e Cobiça, de Oliver Stone, em 1987.

O velho Kirk nunca foi “melhor ator” para seus comparsas de Hollywood, mas não lhe faltaram honrarias. Seus pais foram imigrantes judeus de Mogilev, então Império Russo, hoje Bielorússia. Na “América”, Issur virou Izzy Demsky, mas já adotara o pseudônimo que se tornaria famoso antes de ingressar na Marinha, durante a 2ª Grande Guerra.

Antes disso, foi pugilista. E, para conseguir uma bolsa de estudos, inscreveu-se no grupo de atuação da St. Lawrence University. Tinha por colega uma certa Lauren Bacall, que lhe deu uma força e ajudou para que conseguisse um papel no filme The Strange Love of Martha Ivers, de Lewis Milestone, lançado no Brasil como O Tempo não Paga. O resto é história.

Kirk Douglas recebeu três indicações para o Oscar – por O Invencível, de Mark Robson, em 1949; Assim Estava Escrito, de Vincente Minnelli, em 1952; e Sede de Viver, de Minnelli, de novo, em 1956. Perdeu todas, mas em 1995 a Academia outorgou-lhe um Oscar honorário “por 50 anos de modelo moral e criativo para a comunidade cinematográfica de Hollywood”.

Sua carreira estourou numa época em que o filme noir estava no auge. O tipo físico do ex-pugilista e seu sorriso cínico ajustavam-se aos papéis – Fuga ao Passado, de Jacques Tourneur; Sacrifício de Uma Vida, que Dudley Nichols adaptou da Oresteia; e Estranha Fascinação/I Walk Alone, de Byron Haskin, todos de 1947.

Os gêneros diversificaram-se. Fez grandes westerns – Homem sem Rumo, de King Vidor; Sem Lei sem Alma e Duelo de Titãs, John Sturges. Foi Ulisses no épico do italiano Mario Camerini e participou de outra memorável aventura – 20 Mil Léguas Submarinas, de Richard Fleischer. Tornou-se um cada vez melhor ator dramático e os papéis com Minnelli – o produtor ambicioso de Assim Estava Escrito e o atormentado Van Gogh de Sede de Viver – somente provaram isso.

Consagrado como ator, Kirk tornou-se produtor. Fez Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick, e chamou de novo o cineasta quando se desentendeu nas filmagens de Spartacus com o diretor original, Anthony Mann. Fez história em Hollywood quando Otto Preminger e ele deram crédito de roteirista a Dalton Trumbo.

No filme de Jay Roach com Bryan Cranston, Trumbo – Lista Negra (2016), o público acompanha a história sobre como o escritor, acusado de comunista, sofreu perseguição na indústria, durante o macarthismo, e começou a trabalhar sob pseudônimo ou tendo os trabalhos assinados por outros. Douglas e Preminger quebraram a sinistra lista negra ao devolver a Trumbo seu nome, dando-lhe o crédito dos roteiros de Spartacus e Exodus.

Trumbo ainda escreveu Sua Última Façanha para o ator e produtor – David Miller dirigiu o western contemporâneo. Em 2001, ao receber o Urso de Ouro honorário do Festival de Berlim, Kirk surpreendeu dizendo que era seu filme favorito. Sob a direção de Preminger, fez um de seus mais belos filmes – e talvez a obra-prima do autor, In Harm’s Way/A Primeira Vitória, de 1964. Mas os anos 1990 foram duros com ele.

Perdeu um filho para as drogas (Eric Douglas), sofreu um acidente de helicóptero e ficou com o corpo queimado, teve um derrame. Nem por isso deixou-se abater. Com a ajuda de um fonoaudiólogo, fez emocionados discursos ao receber seu Oscar honorário e o Urso da Berlinale. Tornou-se uma lenda. Nos anos 1970, comprou os direitos de um livro que pretendia adaptar e interpretar, mas transferiu os direitos para o filho.

Michael Douglas produziu Um Estranho no Ninho, Jack Nicholson fez o papel e o filme ganhou todos aqueles Oscars que o cinéfilo sabe, em 1975. No mesmo ano, Kirk, como diretor, fez o vigoroso western Posse – Ambição Acima da Lei, sobre linchamentos no Velho Oeste. Teve uma bela vida.

Kirk Douglas possui uma estrela na Calçada da Fama, seu nome integra o Hall of Fame do National Cowboy & Western Heritage Museu, em Oklahoma City, e existe até uma rua com seu nome em Palm Springs, Califórnia. Acima de tudo, são perenes seus personagens inesquecíveis no imaginário do público.

Fonte: Terra / Foto: Reprodução internet

Kirk com o filho Michael Douglas e o neto Cameron