Vida no Japão
Fernanda e o marido, Leo, decidiram buscar uma melhor qualidade de vida fora do Brasil. Em 2022, o casal deixou Matão, no interior de São Paulo, rumo a Izumo, no Japão. Eles só não imaginavam que apenas três meses depois teriam uma grande surpresa — Fernanda descobriu que estava grávida.
Desde então, ela tem compartilhado a rotina com o filho no Japão e as curiosidades de viver em um país com uma cultura tão diferente — “Aqui, eles gostam muito de crianças, principalmente estrangeiras. Eu falo que Benjamin chama mais atenção do que a preta no Japão (risos)”, brinca
Mãe de um bebê de 8 meses e grávida do segundo, a brasileira Fernanda Cristina Pires Tangoda (@umapretanojapao), 28 anos, de Matão, interior de São Paulo, chama atenção nas redes sociais compartilhando a rotina e as curiosidades de se viver fora do Brasil. Ela e o marido, Leo, chegaram em Izumo, no Japão, em junho de 2022 e, poucos meses depois, ela descobriu que a língua não seria o único desafio — ela estava grávida e teria o bebê longe da família, dos amigos e em meio a uma cultura tão diferente.
“Quando nos conhecemos, Leo já tinha intenção de voltar para o Japão. Ele nasceu aqui e foi para o Brasil com 7 anos. Nos conhecemos, viramos amigos e, antes mesmo de começarmos um relacionamento, ele sempre falava desse desejo. Então, quando casamos, eu sabia que viríamos morar aqui.
Por ele ser da terceira geração de descendentes de japonês, teve mais facilidade de entrar no país. Mas para mim, mesmo sendo esposa, não foi tão simples. Tive que provar — com cartas de namoro e fotos em família — nosso relacionamento para que o meu visto saísse junto com o dele. Nosso objetivo era buscar uma condição de vida melhor. Sabíamos que aqui as pessoas trabalhavam mais, mas os salários são melhores. Então, fomos em busca dessa mudança de vida”, disse ela.
Em entrevista, Fernanda, que não fala japonês, conta como foi a gestação, o parto e como faz para se comunicar no país! “Fui achando que seria muito ruim, mas foi totalmente o contrário. Fui muito bem tratada — tanto na fábrica em que trabalho quanto no país todo. Então, para mim, foi uma experiência muito boa”, afirma.
Fernanda e o filho, Benjamin — Foto: Arquivo pessoal
Você trabalha em uma fábrica, qual é sua função?
Fernanda: Sim, eu trabalho em uma fábrica. A minha função é operadora de máquina. Eu pego uma peça, que vem de outro setor, coloco dentro de uma máquina de corte e depois passo adiante para outros setores. É basicamente isso que faço o dia todo.
A gravidez do Ben não foi planejada. Como descobriu?
F: Não, foi um susto! Eu não esperava. Cheguei no Japão e descobri a gravidez menos de quatro meses depois. Estava sentindo muita dor nas costas e minha colegas de trabalho me aconselharam a fazer um teste de gravidez. Já havia acontecido de eu fazer um teste de gravidez, dar positivo, mas, na verdade, ser um cisto. Então, achei que estava acontecendo novamente. Mas era Benjamin! Fiz e deu positivo. Fiquei assustada, mas feliz! Estávamos casados há bastante tempo, mas não esperávamos essa notícia logo após essa grande mudança. Mas a fábrica deu todo o suporte e assistência, inclusive com tradutor para ir comigo ao médico.
Como foi a gestação?
F: A gestação foi maravilhosa, muito tranquila. Eu costumava trabalhar em pé durante 12 horas. Então, assim que descobri a gravidez, mudaram minha posição de lugar na fábrica para que eu pudesse ficar sentada, perto de banheiro e do bebedouro de água. Eles levaram muito à sério e me deram todo o suporte. O Japão é um país de idosos, então, aqui, as gestantes têm muitos benefícios. Nós pagamos o seguro saúde, que isenta parte dos custos hospitalares, e o restante é pago com cupons, que são distribuídos pela prefeitura da minha província para todas as mães. Aqui, não tem sistema de saúde público, o seguro de saúde cobre apenas parte do valor, mas com esses cupons você acaba não pagando nada ou apenas um valor simbólico.
Como foi dar à luz no Japão?
F: Confesso que estava apreensiva no início, pois não falo a língua e sempre dependo de um tradutor ou do meu marido para entender o que estão falando. E por conta da pandemia, eu teria que ficar sozinha. Meu marido não pode acompanhar o parto, mas disponibilizaram uma tradutora para me acompanhar. Os médicos foram muito legais, a todo momento tiravam minhas dúvidas e explicavam o que estavam fazendo. O Benjamin não estava encaixado, então não tive dilatação, minha bolsa não estourou, passou da data prevista e a médica perguntou se eu queria induzir ou fazer cesárea. Optei pela cesárea. Foram oito dias de internação. A pandemia já tinha passado, mas o Japão é um país muito preocupado com saúde, então, o Leo não pode ficar comigo. Fui internada um dia antes da cesárea. Minha médica passou primeiro para explicar como seria a cirurgia, depois o anestesista e logo em seguida a nutricionista — todos explicaram exatamente como seria e quais eram os riscos. A tradutora entrou comigo e a única parte ruim foi a anestesia. No Japão, as meninas são todas magrinhas, então, o anestesista teve um pouco de dificuldade. Ele falava que eu era muito “musculosa” (risos), mas deu tudo certo.
Como foram os primeiros momentos após parto?
F: Eu vi o bebê na hora que saiu, mas foram entregar ele para mim apenas no segundo dia, e ele só ficou comigo no quarto a partir do terceiro dia. Eles se preocupam muito com depressão pós-parto. O Japão é um país que, infelizmente, tem muito suicídio materno. Por isso, segundo eles, “a mãe tem que descansar”. Leo só teve 15 minutos por dia para ficar com a gente no quarto — e eram 15 minutos mesmo! Se passavam 5 ou 10 minutos, já batiam na porta avisando que o horário de visita tinha terminado. Eles ficavam com o Benjamin para eu descansar e me ensinaram tudo dentro do hospital — tirar leite, amamentar, fazer mamadeira, dar banho… Eles fazem isso com as mães de primeira viagem.
Você e seu marido têm rede de apoio no Japão?
F: Tenho a minha sogra, meu sogro e minha cunhada, que moram aqui. Quando Benjamin nasceu, a mãe do Leo estava afastada do trabalho e conseguiu ajudar nas primeiras semanas, pois Leonardo teve que voltar a trabalhar. Aqui, para que os pais tenham direito a licença, eles precisam ter no mínimo um ano de contribuição de seguro saúde e, na época, faltava um mês. Então, ele trabalhou um mês e conseguiu tirar a licença. Eu também tive que voltar a trabalhar para completar esse um mês e depois tirar a licença. Esse período, sim, foi complicado, pois eu ficava sozinha, já que Leo trabalhava à noite. Minha sogra vinha até nossa casa durante a manhã para fazer almoço, e foi muito importante essa ajuda.
Nesse momento, você está de licença-maternidade, é isso?
F: Sim, nós dois estamos de licença, e o benefício pode ser prolongado por até dois anos, mas depende se você achar creche. Eu explico: passado um ano, a gente precisa inscrever o Benjamin e o governo busca vagas em creches. Se não encontrarem nenhuma vaga próxima à nossa casa, podemos optar por estender a licença por mais seis meses. Se após esse tempo ainda não surgir uma vaga, estendemos para mais seis meses. Por isso, a licença pode chegar a dois anos. E para ter direito, também precisa ter no mínimo um ano de contribuição de seguro saúde. Tanto o homem quanto a mulher têm até dois anos de licença. A maioria dos brasileiros que está aqui acaba estendendo, já os japoneses perdem bônus e bonificações que nós, brasileiros, não temos. Então, são muitos benefícios por engravidar aqui, pois eles precisam de crianças e jovens.
Você está grávida novamente…
F: Sim, estou grávida de 4 meses e essa gravidez também não foi planejada. Sempre quisemos filhos, uma família grande, mas não foi planejada. Estou com 18 semanas, e está sendo bem tranquilo. Sentindo apenas mais enjoos.
Ben chama bastante atenção nas ruas do Japão? Por quê?
F: Sim, eu falo que Benjamin chama mais atenção do que a preta no Japão (risos). Eles gostam muito de crianças e, principalmente, criança estrangeiras, que acabam sendo bem diferentes das japonesas. Ben é mais gordinho, não têm os olhinhos tão puxados… É realmente bem diferente. Então, ele chama bastante atenção — e não só ele, como todos os brasileiros que estão no Japão. Eu ando nas ruas e muitas senhorinhas querem conversar, pegá-lo no colo — e eu não entendo o que elas falam (risos).
F: Não entendo a língua, mas aprendi a me virar sozinha. Sei algumas palavras principais, mas eles também entendem que sou estrangeira e tentam fazer de tudo para compreender. Quando preciso, por exemplo, perguntar onde fica algum departamento no mercado, eu escrevo no tradutor do celular e mostro. Mas na minha cidade, como tem muitos estrangeiros, sempre tem um tradutor que fala português ou inglês, como na prefeitura e em hospitais. Mas em restaurantes ou mercados, costumo usar o tradutor do celular mesmo. Eles já são acostumados com estrangeiros. Eu, inclusive, já encontrei um policial que falava português. Ele havia feito um curso por causa da quantidade de brasileiros em algumas cidades japonesas. Na cidade onde moro há muitos brasileiros, mas em outras regiões, a concentração é muito maior.