Recentemente o Internacional estreou o seu novo uniforme. Trata-se de uma camisa cinza, nunca antes usada em jogos oficiais. A indumentária foi criada dentro do espírito da empresa que busca diversificar a sua linha de produtos, afim de incrementar as vendas e a receita. Analisada sob esse prisma, a iniciativa do departamento de marketing colorado é louvável, ainda mais se levarmos em conta a combalida situação financeira vivida pelo Inter e pelos clubes de futebol de um modo geral.
Entretanto, clubes de futebol não são empresas normais. São, antes de mais nada, instituições que, baseadas na prática do nosso popular esporte, lidam com os sentimentos mais profundos de uma multidão de fãs. Para muitos torcedores, sobretudo aqueles que prezam pelas tradições e pela história construída pelo clube colorado ao longo de mais de um século de existência, a camisa cinza não foi uma boa ideia.
Coincidência ou não, o fato é que o time teve um desempenho abaixo do esperado no jogo de estreia da famigerada camisa, contra o Palmeiras, no estádio Beira-Rio. Embora ninguém tenha chegado ao ponto de atribuir o empate sem gols ao uso da nova camisa, não deixa de ser intrigante que, em meio a uma campanha recheada de vitórias dentro de casa, o time comandado pelo técnico Odair Hellmann tenha marcado passo justamente no dia em que entrou em campo com o novo modelo de uniforme. Teria sido a inesperada “debacle” colorada obra do sobrenatural, das forças místicas invisíveis que atuam nos bastidores do futebol? Afinal, a superstição é um componente tão presente no futebol como as próprias táticas ou como o momento sólido e insofismável da bola de couro estufando as redes.
Por outro lado, houve quem levantasse a questão da cor opaca da camisa como sendo um fator prejudicial ao time, no sentido em que ela impediria uma melhor visualização dos atletas pelos próprios companheiros de equipe. Acostumados com o escarlate vivo do uniforme principal, ou, na pior das hipóteses, com a cor nítida do uniforme branco reserva, os jogadores do Inter teriam sofrido para identificar, em seu raio de visão sensorial, o vulto do companheiro na hora decisiva de realizar um passe. Como sombras bailando na penumbra, Edenilson, Camilo, Rossi e companhia podem ter passado a tarde de domingo imersos em um estado de confusão, tentando inutilmente desbaratar a defesa inimiga, ao mesmo tempo em que eram fustigados pelo veloz ataque do Palmeiras.
Teorias, cabalas, perguntas sem resposta ecoando no vácuo de uma partida de futebol. Após sofrer uma derrota acachapante em um Grenal, em 1977, o Inter tirou de circulação o uniforme todo vermelho usado na partida. Em uma época onde não eram comuns jogadas e estratégias de marketing, o uniforme foi usado como bode expiatório na ocasião. E como esquecer a remodelagem sofrida pelo uniforme da seleção brasileira após a derrocada frente ao Uruguai, em 1950? As camisas brancas saíram de cena para nunca mais voltar, dando vez ao hoje tradicional amarelo-ouro.
Voltando ao uniforme cinza, é bom lembrar que a cor faz parte da história do Inter. Nos anos 1940 e 50 o uniforme oficial do time eram camisas vermelhas, calções brancos e meias cinza. Ou seja, a tonalidade gris não é uma completa estranha. Mas a escolha pela cor não teve nada a ver com um resgate do passado vitorioso construído pelo magnífico time do “Rolo Compressor”. Segundo o próprio clube, a intenção foi fazer uma homenagem ao torcedor, relacionando o cinza do concreto das arquibancadas à cor da nova camisa. É provável, contudo, que uma homenagem mais palatável ao exigente torcedor fosse, pura e simplesmente, a apresentação de um bom futebol, costurando jogadas contundentes sobre a relva e vencendo a partida em questão.
De qualquer maneira, como existe a informação de que o uniforme cinza se tornou um sucesso de vendas, é provável que, pelo menos por enquanto, a sua presença esteja garantida, ainda que esporadicamente, nos jogos do Internacional.
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