
No Viva com Saúde de hoje vamos falar sobre pensamentos intrusivos em gestantes.
Durante a gravidez e nas primeiras semanas após o parto, é comum que a mulher imagine diferentes situações envolvendo o bebê, incluindo pensamentos que podem ser assustadores. Imaginar cenas de acidentes, quedas ou até de machucar o próprio filho sem querer são mais frequentes do que se imagina, embora isso raramente seja compartilhado com profissionais de saúde.
Um artigo publicado na revista Science Advances mostra que esses pensamentos indesejados, na maioria das vezes sobre danos ou perigos ao bebê, podem ser uma importante janela para entender os transtornos de ansiedade no período perinatal e, dessa forma, ajudar a identificar precocemente as mulheres que estão mais vulneráveis a desenvolver quadros de depressão e ansiedade após o parto.
Essas ideias repentinas são conhecidas como “pensamentos intrusivos” e são caracterizadas por imagens ou impulsos vívidos, que surgem de forma abrupta, indesejada ou angustiante.
No contexto da maternidade, podem aparecer como pensamentos do tipo “e se o bebê cair?”, “e se eu o sufocar sem querer?”, “e se eu machucar meu filho?”. “O que os caracteriza é que esses pensamentos surgem ‘do nada’ e são contrários aos valores e desejos da mãe, causando intenso desconforto. Em geral, esses pensamentos não refletem desejo ou intenção real, mas sim medo e hipervigilância e, por isso, diferem da preocupação normal da maternidade.
Estudos mostram que entre 70% e 100% das mães relatam essas intrusões mentais. Cerca de metade tem, pelo menos uma vez, ideias de dano intencional, embora sem qualquer ação de fato. Muitas mães não contam o que sentem por medo de serem julgadas. Por isso, é importante que os profissionais de saúde abordem o tema com as gestantes de forma aberta e normalizadora. Ter pensamentos intrusivos não significa ser perigosa. Falar sobre isso é sinal de autoconsciência e proteção, não de risco.
Daí a importância de ficar atenta aos sinais que indicam a necessidade de procurar ajuda. “Deve-se buscar avaliação imediata se houver impulsos repetitivos, ideias de agir, evitação do bebê ou ansiedade tão intensa que compromete o cuidado.
Para a prevenção, o ideal é que as consultas de pré-natal incluam triagem para ansiedade e histórico de transtornos prévios, além de envolver o parceiro ou familiares no planejamento do suporte pós-parto. “Cuidar da saúde mental da mãe é cuidar da saúde do bebê e de toda a família”, conclui o médico.