Mostra integra a programação da 18ª Semana da Fotografia e foi selecionada pela Convocatória de Arte – Ocupação Galeria de Artes 2025
A Secretaria Municipal da Cultura de Caxias do Sul apresenta a exposição “Maternitas: espelhamentos, apagamentos e interrupções”, sendo a produção mais recente da artista visual Alessandra Baldissarelli Bremm, cuja pesquisa investiga a maternidade como experiência estética, política e relacional. A abertura da exposição contará com a performance “Maternar – um corpo coletivo”, seguida de uma breve visita guiada, nesta sexta-feira, dia 1º de agosto, às 19h, na Galeria de Artes do Centro de Cultura Ordovás.
As obras consistem em uma videoperformance, uma instalação e doze fotografias em preto e branco. A exposição tem curadoria da Profa. Dra. Taís Ritter Dias, pesquisadora das relações entre arte, feminismo e educação. Além da exposição, a artista realizará duas atividades voltadas à comunidade durante o mês de agosto: no dia 5 de agosto, à noite, o encontro “Roda de Conversa MÃE.MATER”; e, integrando a programação da 18ª Semana da Fotografia, no dia 20 de agosto, a Oficina “Camadas Múltiplas”. Ambas as atividades são gratuitas, com vagas limitadas, e as inscrições devem ser feitas pelo site artesvisuais.caxias.rs.gov.br.
A partir de materiais como vidro, acetato e tecidos translúcidos, as obras tensionam as camadas simbólicas do maternar. Esses materiais não operam apenas como suporte visual, mas como parte do discurso: espelham, apagam ou interrompem a figura materna, revelando o quanto essa presença pode ser ambígua, fragmentada e invisibilizada socialmente. A materialidade das obras cria um espaço onde o público também é convidado a se espelhar nesse universo, que, embora aparentemente íntimo e privado, fala do comum, do plural.
O título da mostra resgata a etimologia da palavra maternidade: do latim mater (mãe) + nitas (qualidade ou estado), como ponto de partida para refletir sobre as múltiplas formas de ser mãe na contemporaneidade. Longe de uma abordagem idealizada, Alessandra propõe uma cartografia sensível das maternidades possíveis, muitas vezes vividas na interseção entre o íntimo e o político. Seu trabalho rompe com os modelos tradicionais que associam a maternidade ao silêncio, à abnegação e ao confinamento doméstico. Nas obras, a figura da mãe artista aparece como corpo presente, agente de deslocamento e criação. Alessandra inscreve-se nas imagens ao lado de outras mães, em geral mulheres de seu convívio, e habita os espaços cotidianos com uma atenção expandida: trata-se de tornar visível aquilo que, por tanto tempo, foi vivido no privado. Esses espaços são pensados como ambientes em fluxo, permeados por camadas culturais, afetivas e sociais que moldam, tensionam e reinventam a experiência do maternar.
Um dos eixos centrais da exposição é o protagonismo do corpo materno, entendido aqui como corpo em resistência. Não o corpo dócil ou romantizado da iconografia tradicional, criada por homens artistas que cristalizaram a figura da mãe devotada, passiva, cuja subjetividade se apaga em nome de um ideal de maternidade, mas um corpo em trânsito, inquieto e em transformação contínua, que cria e não cessa de se reinventar. Um corpo que desestabiliza e desafia não apenas as idealizações e a romantização da maternidade, mas também as narrativas patriarcais que historicamente excluíram as mães do campo da criação artística.
Maternitas se inscreve, assim, na contramão do apagamento simbólico e institucional da maternidade nas artes visuais. Afirma-se como gesto político e poético: a maternidade não como obstáculo, mas como força criadora, um estado expandido que atravessa a produção estética, reinventa linguagens e propõe outras formas de habitar o mundo. Um convite à reflexão sobre como olhamos, coexistimos, narramos e representamos as mães no mundo contemporâneo.
Performance de abertura: “Maternar – um corpo coletivo”
A performance “Maternar – um corpo coletivo” marca a abertura da exposição Maternitas como um gesto simbólico de desvelamento, partilha e presença plural. Criada e performada por Alessandra Baldissarelli Bremm, artista e mãe, a ação propõe um atravessamento poético e político dos estados do maternar através do corpo, do toque e da escuta entre mulheres.
Durante a performance, a fachada envidraçada da galeria é coberta por tecidos e outros materiais translúcidos – que simbolizam as camadas sociais, emocionais e simbólicas que envolvem a experiência materna. Alessandra inicia o ritual sozinha, atrás da cortina, visível apenas como silhueta. Em silêncio, espera. Sua presença velada convida o público a refletir sobre a visibilidade e a invisibilidade da figura materna na arte e na sociedade.
Uma a uma, mães que participam da exposição adentram o espaço e, num gesto de afeto e reconhecimento, retiram, junto à artista, as camadas que as separam do mundo. A cada encontro, uma camada é desfeita – gesto que revela, mas também cura, acolhe, transforma. No desfecho, os filhos dessas mulheres entram na galeria e abraçam suas mães, completando o ciclo da ação.
Mais do que um prólogo expositivo, “Maternar – um corpo coletivo” é um manifesto performativo sobre o maternar como estado compartilhado, dinâmico e relacional. Um corpo só não sustenta a complexidade da maternidade; é no coletivo que ela se sustenta, se multiplica e se torna visível. A performance propõe ao público não apenas um olhar, mas um envolvimento sensível: um convite a tocar o que muitas vezes é calado, e a reconhecer o materno como potência estética e política.
SERVIÇO
Exposição: Maternitas: espelhamentos, apagamentos e interrupções, de Alessandra Baldissarelli Bremm
Período expositivo: 01 a 31 de agosto de 2025
Local: Galeria de Artes do Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho
Visitação presencial:
Segundas: das 9h às 16h
Terças a sextas: das 9h às 22h
Sábados, domingos e feriados: das 14h às 22h
Visitação online: artesvisuais.caxias.rs.gov.br
Atividade gratuita | Classificação: Livre
Abertura
Performance de abertura + visita guiada
Dia: 1º de agosto de 2025, às 19h
Local: Galeria de Artes do Centro de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho