Mostra integra a programação dos 150 anos da Imigração Italiana
O Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami de Caxias do Sul e o Acervo Municipal de Artes Plásticas celebram os 150 anos da Imigração Italiana e os 50 anos da criação do AMARP. Integrando a programação da 23ª Semana Nacional dos Museus, do Instituto Brasileiro de Museus (IBRAM), a Unidade de Artes Visuais (UAV) apresenta, através de um breve recorte do AMARP, obras de artistas italianos na exposição acessível “A regola d’arte: imigrantes modernistas”.
Com curadoria de Mona Carvalho, coordenadora da Unidade de Artes Visuais da Secretaria da Cultura, a exposição acessível com obras do AMARP conta com audiodescrição das obras e pode ser visitada no Arquivo Histórico João Spadari Adami a partir do dia 8 de maio de 2025.
Com 50 anos desde a criação do AMARP como Pinacoteca Aldo Locatelli, festejamos 150 anos de conexões e reinterpretações da imigração italiana. A exposição apresenta um diálogo entre a tradição e o contemporâneo, destacando artistas italianos que reinterpretam temáticas clássicas sob uma lente moderna. Ao contrário do olhar nostálgico comumente associado à cultura italiana no Brasil, a mostra desafia estereótipos ao explorar outras temáticas, que reverberam de maneira singular em cada obra dos artistas apresentados.
Esse encontro entre história e modernidade celebra não apenas os 150 anos da imigração italiana, mas também a capacidade de reimaginar identidades culturais, oferecendo novos significados a cada olhar sobre essa trajetória. A exposição apresenta trabalhos selecionados de Alfredo Volpi, Bob de Grandi, David Ratti, Fulvio Pennachi, Franca Taddei, Inos Corradin e Luigi Zanetto, todas obras que integram o acervo municipal.
A exposição tem classificação indicativa livre, e a visitação é gratuita até o dia 31 de julho de 2025, de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h, no Arquivo Histórico João Spadari Adami.
Sobre os Artistas:
Alfredo Volpi
Volpi foi um pintor ítalo-brasileiro considerado pela crítica como um dos artistas mais importantes da segunda geração do modernismo. Uma das características de suas obras são as bandeirinhas e os casarios. Volpi mudou-se com os pais para São Paulo em 1897, ainda criança, estudou na Escola Profissional Masculina do Brás. Mais tarde trabalha como marceneiro, entalhador e encadernador. Em 1911, torna-se pintor decorador e começa a pintar sobre madeiras e telas. Na década de 1930 passa a fazer parte do Grupo Santa Helena com vários artistas, como Mário Zanini e Francisco Rebolo, entre outros. Em 1936, participa da formação do Sindicato dos Artistas Plásticos de São Paulo e integra, em 1937, a Família Artística Paulista – FAP. Sua produção inicial é figurativa, destacando-se marinhas executadas em Itanhaém, São Paulo. No fim dos anos de 1930, mantém contato com o pintor Emídio de Souza. Em 1940, ganha o concurso promovido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, com trabalhos realizados com base nos monumentos das cidades de São Miguel e Embu e encanta-se com a arte colonial, voltando-se para temas populares e religiosos. Realiza trabalhos para a Osirarte, empresa de azulejaria criada em 1940, por Rossi Osir. Sua primeira exposição individual ocorre em São Paulo, na Galeria Itá, em 1944. Em 1950, viaja para a Europa acompanhado de Rossi Osir e Mario Zanini, quando impressiona-se com obras pré-renascentistas. Passa a executar, a partir da década de 1950, composições que gradativamente caminham para a abstração. É convidado a participar, em 1956 e 1957, das Exposições Nacionais de Arte Concreta e mantém contato com artistas e poetas do grupo concreto. Recebe, em 1953, o prêmio de Melhor Pintor Nacional da Bienal Internacional de São Paulo, dividido com Di Cavalcanti; em 1958, o Prêmio Guggenheim; em 1962 e 1966, o de melhor pintor brasileiro pela crítica de arte do Rio de Janeiro, entre outros.
Bob de Grandi
Em 1995, fez sua primeira exposição individual na Associação de Artistas de Gênova, cidade em que residiu até 1997. Após esse período, se transfere para a Austrália, onde viveu cerca de três anos e trabalhou com a madeira local, sobretudo o eucaliptus. No final de 1999 retornou à Itália onde permaneceu até 2001, quando então sai novamente, desta vez rumo à Espanha, em Cadaques, onde morou até final de 2003. Nesse período, foi possível entrar em contato com o surrealismo de Salvador Dali. Ao final de 2003 se transfere à Venezuela. Lá viveu em Isla Margarita até 2004 trabalhando com várias madeiras locais e, de lá, veio ao Brasil, país onde trabalha e vive atualmente. Sua obra, executada em vários tipos de madeira, por vezes misturada com vários metais, se caracteriza pela ideia de movimento que ele dá às peças. A dimensão feminina está sempre presente em seu trabalho. Da Venezuela e do Brasil recebeu também a influência da fauna e flora tropicais.
David Ratti
Natural de Itália, David Ratti pertencia a uma família de Cremona que possuía tendencia ao desenho. David Ratti começou a estudar desenho e engenharia, diplomou-se em 1932 como professor primário, lecionava matemática e nas horas vagas desenhava. Seu primeiro professor foi Michele Rosso da Academia Albertina de Turim. Posteriormente estudou com Alfredo Ortelli, diplomou-se na Academia de Belas Artes de Veneza. Estudou ainda com o professor Dário Wolff diplomado pela Academia de Belas Artes de Santa Cecília em Roma, pintor de arte sacra na Reconstrução das Igrejas destruídas pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). David Ratti venho para o Brasil em julho de 1948 onde radicou-se em Caxias do Sul contratado pela Metalúrgica Abramo Eberle na qual trabalhou como desenhista técnico e artístico durante 28 anos. Lecionou durante 25 anos para os operários da metalúrgica. Foi professor universitário de filosofia na UCS. Como artista Ratti era especialista em reproduções de quadros clássicos como os de Rafael Sanzio e Canaletto. O que acabava fazendo Ratti ter uma produção artística que primorava pelas paisagens detalhadíssimas; raramente participava de exposições. Doou para o AMARP a obra chamada: “Os Pioneiros” de 1974, evocando os imigrantes, que “de uma pequena semente, fizeram surgir uma grande planta; de uma pequena faísca, uma grande chama”. Essa obra tem numeração AMARP 003 e participou da primeira exposição da antiga Pinacoteca Aldo Locatelli no Museu Municipal em 1975. Faleceu em Caxias do Sul.
Fulvio Pennachi
Fulvio Pennacchi nasceu em 1905 na Toscana, Itália. Estudou em Florença, Pisa e Lucca, graduando-se em 1928, em Pintura Mural pela Academia Real de Belas Artes daquela cidade. Transferiu-se para o Brasil chegando em 1929. Fixou residência em São Paulo e aqui faleceu em 1992, completando 63 anos consecutivos de trabalho artístico. Foi integrante do Grupo Santa Helena, juntamente com Alfredo Volpi, Francisco Rebolo, Aldo Bonadei, Alfredo Rizzotti, Mario Zanini, Humberto Rosa, Clovis Graciano e outros. Sua pintura é sensível e pessoal, de modo especial na interpretação dos grandes temas bíblicos e da vida dos santos, em razão de uma infância marcada por sólida educação religiosa católica, e na evocação do mundo caipira.
Inos Corradin
Estudou em Castelbaldo com Tardivello, e ao se mudar em 1950 para o Brasil fixou-se em Jundiaí. Desde 1952 participou de mostras coletivas como o Salão Paulista de Arte Moderna e o Salão Nacional de Arte Moderna, e entre 1954 e 1955 dedicou-se à cenografia. Já expôs individualmente na Itália, Israel, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, Argentina, Uruguai, Holanda e Canadá, além de, naturalmente, em várias cidades brasileiras. É pintor de paisagens, figuras e naturezas-mortas, praticando uma arte jocosa e humorada, tendendo à estilização e com bons recursos cromáticos. Vogna, Itália, 14/11/1929. Em 1986, Inos expôs na Galeria Noelle em Zurique/Suíça, e na Galeria Supersaxo em Martigni, Suíça. Em 1987, alem da exposição na Galeria de Arte André, expôs na Galeria Munsterberg, em Brasília/suíça. Últimas mostras: São Paulo SP – Impressões: a arte da gravura brasileira, no Espaço Cultural Banespa-Paulista (1998) / São Paulo SP – 4 Décadas, na Nova André Galeria (2001) / São Paulo SP – Paisagens do Imaginário, na Nova André Galeria (2002).
Luigi Zanetto
Era comerciante. Veio para o Brasil em 1948. Em 1950 fez sua primeira obra de arte. Sua técnica era no trabalho com placas de cobre, dobrando-as, cinzelando-as. No Museu Municipal de Caxias do Sul em 1976 fez sua primeira aparição pública como artista. Morreu em 1999 em Caxias do Sul.
Franca Taddei
Franca Taddei foi uma importante pintora natural da Itália, veio para o Brasil em 1950. Cursou a Escola de Belas Artes de Pelotas, onde foi aluna de Aldo Locatelli, entre 1950 e 1953. Fez pintura mural no Atelier Livre Xico Stockinger da Prefeitura Municipal de Porto Alegre, com Clébio Sória e Danúbio Gonçalves. Estudou também com Fernando Baril técnicas e procedimentos pictóricos. Possui obras em acervos públicos como o MARGS. É verbete com ilustrações nas I e II edições do “Dicionário de Artes Plásticas no Rio Grande do Sul”, de Renato Rosa e Decio Presser, Editora da UFRGS. Estilo artístico: Evoluiu sutilmente da pintura figurativa para uma pintura abstrata, sensível e ritmada. Franca Taddei por Milton Couto: “[…] a base de seu trabalho é solidamente constituída por quem domina muito bem a técnica, ao mesmo tempo que, através dela, nos revela um mundo de imagens ricas em vitalidade e sedução”.