“É como procurar uma agulha em um palheiro, só que sem saber onde está o palheiro”
Em sua segunda visita ao Glaciar Thwaites, o submarino Ran se perdeu e não retornou ao ponto programado. O local na Antártida é conhecido pelos apelidos “Geleira do Apocalipse”, “Geleira do Juízo Final” e “Geleria do Fim do Mundo” e possui cerca de 192 mil km². Pelos nomes, já dá para imaginar que boa coisa não vem por aí, certo?
O veículo autônomo adquirido pela Universidade de Gotemburgo (Suécia) iria explorar as profundezas da gigantesca geleira. Contudo, desta vez, a equipe de pesquisa sueca perdeu contato com o submarino que “sumiu do mapa”. A rota do Ran é programada antecipadamente e ele usa um sistema de navegação para encontrar o caminho de volta à superfície após completar um mergulho.
O projeto, liderado pela professora Anna Wåhlin, estuda Thwaites desde 2019, quando se tornou a primeira equipe a entrar nas profundezas deste glaciar com a tecnologia e os sensores necessários para documentar a sua estrutura e a área sob o gelo. Mas no mês passado, após vários mergulhos, o Ran perdeu contato com a superfície e desapareceu sem deixar rasto sob a Geleira do Juízo Final.
A Geleira do Fim do Mundo
A geleira é apelidada com nomes nada animadores pela sua imensa massa. Caso Thwaites se derreta por completo, tem potencial de elevar o nível do mar em vários metros. Assim, estudar este glaciar antártico é fundamental para o nosso futuro devido à velocidade a que está a derreter, e estudar as camadas de gelo e água que que o cercam são fundamentais para a compreensão dos processos envolvidos.
Durante os mergulhos há momentos em que, devido à profundidade e às camadas de gelo entre o submarino e a superfície, é fácil perder a ligação com o veículo por curtos períodos de tempo, mas não por completo. No ponto de encontro, a equipe iniciou a busca utilizando drones, helicópteros e equipamentos de busca acústica. Sem sucesso, eles deram o Ran como perdido.
“É como procurar uma agulha num palheiro sem saber onde está o palheiro”, comentou Anna Wåhlin (via 3DJuegos) que apesar de ter perdido o submarino no valor de quase 3 milhões e meio de euros, reconhece que os dados obtidos durante as expedições são suficientemente valiosos para arriscar essa perda.
Entre as pesquisas realizadas há um ano, descobriu-se que a parte inferior da geleira estava derretendo muito mais lentamente do que se acreditava anteriormente. Por outro lado, acontece exatamente o contrário com a superfície e suas rachaduras, com o gelo derretendo de forma muito mais alarmante do que o esperado. A equipe já está em busca de financiamento para poder adquirir outro submarino e continuar com o trabalho.
O Ran é um dos apenas três submarinos científicos no mundo com essa capacidade de mergulhar em profundidades previamente consideradas “inatingíveis”. Assim, o desaparecimento do Ran reduz a disponibilidade para dois submarinos e prejudica a luta pelo estudo das mudanças climáticas no planeta.