IA – nova tendência do voyerismo habitacional é a casa dos sonhos gerada por inteligência artificial. Entenda o que é isso.
Criado para a nova geração, a proposta desse projeto mostra como a IA – inteligência artificial está influenciando na construção e idealização de moradias. Uma nova tendência de casa dos sonhos surgiu nas redes sociais com perfis como o @tinyhouseperfect.
Trata-se de um software que explora os mais diversos tipos de casas em miniatura, com diferentes ambientes, modelos e decorações.
Cada uma das mini casas do sonho são geradas por software de inteligência artificial e refinada com a ajuda de mais programas.
No entanto, pessoas mais desavisadas podem se confundir com essas casas, de tão bem feitas. E não apenas o exterior, mas também seu interior, cuidadosamente criado.
Contudo, não é apenas o @tinyhouseperfect que está moldando a casa dos sonhos no Instagram. Diversos perfis estão fazendo o mesmo, e a inteligência artificial estabelece padrões cada vez maiores.
Criando a casa perfeita com IA
Nos últimos anos, uma economia inteira de casas de sonho geradas por inteligência artificial (IA) surgiu. Basta pesquisar no Pinterest por inspiração de decoração e você se deparará com uma infinidade de quartos artificiais que direcionam a sites que vendem acessórios para casa acessíveis.
Contas de “casas surreais” no TikTok e em outras plataformas produzem renderizações de lofts impecáveis e vistas inatingíveis de apartamentos parisienses que só existem no mundo digital.
O site “Esta Casa Não Existe” gera novas residências aleatórias sob comando. Além disso, dezenas de serviços e aplicativos de design impulsionados por IA, como SofaBrain e RoomGPT, geram imagens elegantes ajustadas às suas preferências.
Antigamente, ter um conjunto de chaves de casa era um símbolo de sucesso americano, o ápice da realização pessoal.
Atualmente, devido às taxas de juros elevadas, oferta insuficiente e aquisição de propriedades por corporações, tornou-se mais irrealista do que nunca ser proprietário.
As casas de IA apenas evidenciam essa realidade. No mercado virtual, o suprimento é infinito e a chave está sempre na fechadura.
Gosto pessoal
Outro elemento que está atraindo as pessoas para montar a casa dos sonhos por IA é a questão do gosto pessoal.
As ferramentas não apenas geram imagens ultrarrealistas para sonhar e brincar, mas também seguem exatamente as preferências dos usuários. E com os algoritmos ficando mais inteligentes, não é difícil reunir elementos que conquistam os perfis.
Além disso, as redes sociais e a inteligência artificial também estão se tornando ferramentas poderosas para o design de interiores. Conforme descrevem especialistas, é uma forma de trazer uma “perspectiva fresca” que pode “inspirar arquitetos” a pensarem “fora da caixa”.
Entretanto, apesar das sugestões aparentemente infinitas da IA, os resultados frequentemente se mostram estranhos.
Grande parte da decoração gerada por IA que inunda o Instagram exibe as mesmas imagens: mantas líquidas, arte de parede surrealista, lareiras acesas com chamas paradas.
Essas representações podem ser baratas, mas parece que o achatamento do design afeta principalmente as casas dos ricos.
Claro, isso muda com alguns ajustes. Nas versões pagas, que permitem acessar mapas reais e até mesmo definir valor da propriedade, a história é outra. Os detalhes ficam mais realistas e mais atrativos, o que gera mais apelo para a contratação de assinaturas.
Casa dos sonhos vazia
Artistas digitais também se dedicam a criar a casa dos sonhos no conceito arquitetônico surrealista nos softwares de IA. Alguns dos perfis mais famosos possuem mais de 500.000 seguidores.
Esses especialistas, ao contrário de usuários comuns das plataformas, criam residências personalizadas, com próprias fotografias de edifícios e referências mais especialistas. Além disso, também geram ilustrações para fãs, com casas inspiradas em Harry Potter, Papai Noel e “O Senhor dos Anéis”.
No entanto, os prompts parecem criar residências vazias, sem animais ou pessoas, apenas descrições físicas. Por exemplo, “cozinha aconchegante e luxuosa no meio das terras altas escocesas”, com “vistas da janela para uma vasta paisagem de um lago cênico com a natureza do início do outono”. Ele solicitou “detalhes rústicos”, “profundidade de campo”, “tons quentes”, “estilo cru”.
Contudo, nada sobre pessoas vivendo. Isso, em tese, tiraria o sentimento de identificação de quem está vendo, e sonhando, com a casa dos sonhos.
Além disso, é um formato que mostra como vive em um espaço vazio, descolado da realidade.
Na prática, são residência abandonadas, como se estivessem prontas para receber as pessoas que as visitam, mas não são de verdade.
Ou seja, ninguém habita essas casas, e muitos dos detalhes se tornam impraticáveis, dependendo da região. Quem possui valor aquisitivo para montar sua casa dos sonhos são pessoas com grande orçamento, que o fazem fora da internet.
Mesmo assim, a inteligência artificial continua tendo sucesso com o voyeurismo habitacional, e traz uma nova forma de distração para pessoas que sonham com a própria residência, mas apenas pela internet, e nunca na realidade.
Fonte: Folha de São Paulo