Neste mês, um casal de turistas encontrou uma câmera escondida dentro do flat em que estava hospedado em Muro Alto, em Ipojuca, no Grande Recife. O aparelho estava numa tomada embaixo da TV.
O locador tem a obrigação de informar o hóspede sobre a existência de câmeras nos ambientes, mas, de qualquer forma, uma checagem é sempre importante. A Polícia Civil listou algumas recomendações que podem ajudar.
Faça sua própria vistoria
A primeira coisa a fazer é olhar todos os cômodos e dar uma atenção maior a objetos que possam esconder uma câmera, como tomadas, ar-condicionado e TVs. Como o intuito é registrar momentos íntimos, geralmente as instalações são feitas em quartos e banheiros.
Procure por luzes piscando
Diversos modelos de câmeras possuem luzes que piscam quando o aparelho está em funcionamento. Portanto, é importante verificar se essas luzes estão saindo de objetos que normalmente não as emitem, como carregadores, detectores de fumaça e relógios.
As tomadas elétricas são lugares comuns para esconder esses dispositivos — muitos equipamentos de filmagem escondidos são alimentados por uma fonte de energia externa.
Acompanhe a fiação de aparelhos até as tomadas e observe se há algum fio ou adaptador estranho conectado.
O delegado Ney Luiz sugere o uso de aplicativos que possam identificar câmeras conectadas ao Wi-Fi.
Além disso, o flash e a própria câmera dos smartphones também são aliados do consumidor. Se a câmera tem tecnologia de visão noturna ou detecção de movimentos, ela provavelmente utilizará luz infravermelha. Apesar de não ser visível a olho nu, o infravermelho pode ser detectado por câmeras de celulares.
Em alguns modelos, ele poderá detectar a luz apenas pela câmera frontal. Mas, em outros modelos, tanto os sensores traseiros quanto o de selfie conseguem detectar esses dispositivos ocultos.
Desconecte dispositivos suspeitos
Por último, se você notar um dispositivo suspeito, como um carregador de celular ou um adaptador de tomada, desconecte-o imediatamente e veja se isso afeta o funcionamento de outros dispositivos na sala. Se não afetar, é possível que o dispositivo seja uma câmera escondida.
O Procon de Pernambuco afirmou que, caso suspeite da existência de uma câmera escondida, fotografe e filme e, depois, registre um boletim de ocorrência na delegacia mais próxima, solicitando uma perícia o mais breve possível.
Além disso, é recomendado denunciar no Procon mais próximo, para que o órgão de defesa do consumidor possa atuar para punir os responsáveis, e também procurar um advogado especializado para interpor uma ação civil e penal contra os responsáveis.
O uso e a venda de “câmeras espiãs” não são proibidos no Brasil. Conforme a especialista em cibersegurança e privacidade de dados Flávia Brito, embora esse tipo de equipamento seja comercializado livremente pela internet, a sua utilização, na maioria, é para a prática de crimes.
“Na grande maioria das vezes, as pessoas que adquirem esses equipamentos são para espionagem e invasão de privacidade. A gente pensa [em situações de] pedofilia, extorsão, obsessão também”, disse especialista.
Ainda segundo a especialista, a quantidade de casos de câmeras escondidas aumentou significativamente desde 2019, acompanhando as inovações tecnológicas que transformaram as câmeras de vídeo em equipamentos cada vez menores e com grande qualidade de captura.
“Por incrível que pareça, é alta a quantidade de equipamentos inseridos dentro de lâmpadas, detectores de fumaça, objetos que podem parecer estranhos, quadros, buracos na parede. Existem até espelhos falsos”, disse Flávia Brito.
A especialista alerta que grande parte destes equipamentos é conectada a aplicativos que armazenam o material em nuvem.
Ou seja, a câmera fica ligada conectada à rede Wi-Fi de onde está instalada e transmite o material para um aplicativo que pode estar no celular de qualquer pessoa, em qualquer lugar.
Em ambientes de grande circulação de pessoas, como hotéis e pousadas, a especialista aponta que é possível que um prestador de serviço ou hóspede instale uma câmera espiã sem o conhecimento do proprietário.
No entanto, segundo Flávia Brito, cabe ao espaço monitorar os aparelhos conectados à rede de internet do estabelecimento.
“Para essas câmeras funcionarem, por menores que sejam, elas precisam de um acesso wifi. Se você faz a sua gestão [de rede] e a pessoa pluga um equipamento que não está listado, que não é da sua infraestrutura, você tem como verificar isso e saber de onde vem esse sinal”, afirmou.