No Viva com Saúde de hoje vamos falar sobre os casos de paradas cardíacas em mulheres negras durante o parto.
Um estudo publicado nesta semana, mostra que a parada cardíaca durante o trabalho de parto, apesar de uma ocorrência rara, é mais comum em mulheres negras do que em parturientes de outras etnias. Enquanto a taxa geral é de 13,4 a cada 100 mil mulheres, entre as negras a frequência sobe para 25,5 a cada 100 mil.
As chances aumentadas poderiam ser explicadas pela hipertensão, fator de risco para paradas cardíacas, e mais comum entre mulheres negras. Contudo, os pesquisadores afirmam que ao fazer a correção dos dados, as diferenças ainda permanecem, segundo experiência prévia de outros estudos científicos. Isso sugere que a causa está no acesso precarizado aos serviços de saúde. Os cientistas afirmam que tratar a população com mais equidade pode diminuir disparidades como essas.
Desenvolvida por pesquisadores do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, o estudo investigou mais de 10 mil prontuários de mulheres em trabalho de parto. Foram analisados documentos entre 2017 e 2019 disponíveis no banco de dados públicos de usuários de planos de saúde.
O novo estudo, publicado na revista Annals of Internal Medicine, também revela que a parada cardíaca materna foi mais comum entre as gestantes usuárias do Medicare ou do Medicaid, planos de saúde gerenciados pelo governo americano destinados a pessoas idosas ou de baixa renda.
Para a doutora em obstetrícia e ginecologia e responsável pela enfermaria de gestação de alto risco do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), Maria Rita de Figueiredo Lemos Bortolotto, a assistência pré-natal oferecida às grávidas pelo SUS (Sistema Único de Saúde) é uma oportunidade para contornar esse problema no Brasil, principalmente se levado em consideração que a maioria das gestantes é jovem e, portanto, tem uma grande chance de sobrevida se tratadas de maneira adequada.
Mesmo incomuns, os casos preocupam os médicos. O manual de Gravidez e Planejamento Familiar na Mulher Portadora de Cardiopatia da SBC define a ocorrência como “uma das situações mais dramáticas e desafiadoras da sala de emergência”.
Atendimentos pré-natal com uma abordagem multidisciplinar da gestação, associando clínicos gerais, obstetras, cardiologistas e intensivistas, é a melhor maneira de prevenir e tratar doenças de risco para a mulher no trabalho de parto.