Ao mesmo tempo em que comemora 40 anos de atividades fazendo teatro em Talian, o Grupo Miseri Coloni de Caxias do Sul anuncia a preparação do novo espetáculo, que leva o nome de “Miseri Coloni dá Voz ao Silêncio”. Recentemente, cerca de 15 integrantes, entre atores e cantores, se reuniram com o dramaturgo Jorge Rein e o diretor Camilo de Lélis para conhecer o texto preliminar.
A entidade está em processo de assinatura do Contrato com a SEDAC – Secretaria de Estado da Cultura, para receber a verba conquistada via Edital nº 16/2021 a Arte do Espetáculo, do FAC – Fundo de Apoio à Cultura. Os próximos meses serão dedicados à finalização da pesquisa e do texto com tradução para o Talian. Logo começam as definições de elenco, composição das músicas e início dos ensaios. A estreia está prevista para dentro de 12 meses.
O projeto trata da criação de espetáculo teatral que marca o sesquicentenário da imigração italiana no RS (2025). Será falado predominantemente em Talian e contará a história da imigração italiana com foco nos anos 1920, época das comemorações do cinquentenário da imigração (1925). Será com isso criado um espetáculo para circular nos municípios de identidade taliana, no marco do sesquicentenário da imigração italiana no RS.
A pesquisa para elaboração da proposta percorreu fatos históricos como é o caso das mortes por disputas políticas/eleitorais motivadoras da revolução de 1923, ocorridas em Travessão Alfredo, nos fundos da colônia Caxias, presentes no livro “100 anos de Silêncio”, de Plínio Mioranza (livro no prelo do autor recém-falecido), e de relatos da morte dos irmãos Biondo, com registros no cemitério da comunidade de São Brás, interior de Caxias.
Destaca-se o surgimento da literatura do Talian, com Aquiles Bernardi em 1924, publicando o personagem Nanetto Pipetta em capítulos semanais no Stafetta Riograndense. Mas que em fevereiro de 1925 foi impedido de ser publicado por “ordem superior” atendendo aos interesses dos governantes do Estado Brasileiro e da tentativa de imposição do pensamento oficial italiano, já sob as diretrizes do fascismo. Estas diretrizes permeiam os atos oficiais de comemoração dos 50 anos da imigração. As informações estão presentes com detalhes no livro Italianidades, Polonidades, Germanidades, de Terciane Luchese e Adriano Malikoski, (Universidade de Caxias do Sul, 2021) e do Album Cinquantenário della Colonizzazione Italiana Nel Rio Grande Del Sud. Por outro lado, será mostrado os autênticos interesses dos imigrantes italianos que, como colonos, só pensavam em “plantar, trabalhar (capinar) e economizar”.
João Tonus, um dos integrantes do grupo Miseri Coloni, afirma que é “indispensável dizer que esses temas são especialmente caros para as pessoas mais idosas que ainda têm na memória os relatos dos seus antepassados, e mantêm vivo o hábito de falar o Talian. Elas promovem, dessa maneira, uma ação afirmativa de inclusão de pessoas pelo seu afeto, atingindo também as pessoas mais novas herdeiras desse significativo legado cultural. Isso é muito relevante para a autoestima das comunidades e se constitui, certamente, num ato cultural de inclusão intergeracional e de salvaguarda de história e de saberes”.