A Associação de Amigos da Biblioteca Pública do Estado, presidida por Gilberto Schwartsmann, deu início ao processo de restauração dos murais originais que decoravam as paredes do hall do prédio, inaugurado em 1922 e localizado no Centro Histórico de Porto Alegre. A obra, a cargo de especialistas em restauração de pinturas murais e arquitetura com valor cultural, deve ser concluída no prazo de 12 meses. Os recursos iniciais somam R$ 125 mil. Deste valor, R$ 10 mil já foram desembolsados. A Secretaria da Cultura (Sedac) deu sequência ao trabalho, investindo R$ 516 mil para a conclusão da recuperação dos murais originais – verba que faz parte do programa Avançar na Cultura, do governo do Estado.
Pinturas do hall de entrada estavam cobertas por tinta neutra há décadas
O edifício sede da Biblioteca, na esquina das ruas Riachuelo e General Câmara, começou a ser erguido em 1912, com projeto de Affonso Hebert. A primeira etapa da construção foi concluída em 1915. Em 1919, foi contratada uma ampliação a cargo do engenheiro Teófilo Borges de Barros. A inauguração oficial ocorreu em 7 de setembro de 1922, data festiva do centenário da Independência do Brasil. O prédio histórico teve a pintura decorativa original executada por Fernando Schlater. As esculturas de mármore e bronze são de Alfred Adloff, Eduardo de Sá e Giuseppe Gaudenzi.
A diretora da BPE, Morganah Marcon, relata que os afrescos originais foram cobertos com tinta neutra em 1954, quando o diretor da Divisão de Cultura do Estado era Ado Malagoli, e o diretor da Biblioteca era Arthur Ferreira Filho. A justificativa dos gestores de então era que os murais não tinham valor histórico e dispersavam a atenção dos leitores. Dessa forma, ao longo de quase sete décadas, foram-se sobrepondo camadas de tinta sobre as pinturas decorativas de todos os espaços aos quais o público tinha acesso.
Apenas parte do segundo andar, onde funcionava a ala administrativa, teve os afrescos preservados, assim como uma área do subsolo, destinada a serviços internos, e uma sala do térreo, onde Borges de Medeiros despachou por um período. Na década de 1960, o Salão Mourisco e o Salão Egípcio foram restaurados. A exuberância da pintura decorativa dos dois espaços, no entanto, já necessita de nova intervenção restaurativa, que deverá ser viabilizada com recursos captados pela Associação dos Amigos da Biblioteca Pública do Estado.
A obra está a cargo de especialistas em restauração de pinturas murais e arquitetura com valor cultural.
As intervenções propostas utilizam materiais e técnicas que permitam a conservação dos afrescos sem causar alterações no aspecto físico e estético. “Finalmente, poderemos todos contemplar as belíssimas pinturas murais que estão por baixo da tinta cinza, e assim resgatar a verdadeira beleza deste prédio. Estamos muito felizes com esta retomada das obras de restauro, que recuperarão as pinturas decorativas originais”, comemora a diretora da BPE.
O trabalho de restauração da pintura original do hall de entrada está a cargo da Studio1 Arquitetura, sob responsabilidade do arquiteto Lucas Volpatto, contando com a expertise das especialistas em restauração Anice Jaroczinski e Susana Cardoso. A primeira etapa iniciou com a decapagem das camadas de tinta sobrepostas e o projeto de consolidação e reconstituição das pinturas originais. “A contratação da empresa responsável pelo projeto e execução do trabalho se deu, de acordo com a Lei, com inexigibilidade de licitação, tendo em vista a reconhecida especialidade e o currículo em obras de restauração de pinturas murais”, explica Eduardo Hahn, assessor especial de Memória e Patrimônio da Sedac.