Di Maria no PSG.

Causou espanto o fato ocorrido durante a partida entre PSG e Nantes, válida pelo campeonato francês, no último domingo. Após ter a atenção chamada pelo dirigente Leonardo, que assistia ao jogo nas tribunas, o técnico Pochettino do PSG substituiu o meio-campista Di Maria sem maiores delongas. O motivo? A casa do jogador fora invadida por assaltantes, e sua família estava sendo mantida como refém.

A situação inusitada me fez lembrar de um episódio envolvendo o antigo centromédio Ávila. Quando defendia o Botafogo, no final da década de 1940, a esposa do jogador veio a falecer nos momentos que antecediam uma partida decisiva para o alvinegro carioca. Os dirigentes do clube, no entanto, agiram de um modo diferente na hora de transmitir as más notícias ao atleta.

Levantemos o manto de olvido. Osvaldo Ávila começou a sua trajetória dentro do futebol em Pelotas, sua terra natal. O caminho até que o jovem pudesse alcançar a condição de jogador profissional, um ofício novo e de estruturas incipientes na época, foi árduo. Antes de se dedicar com exclusividade ao velho e violento esporte bretão, Ávila acumulou as funções de lavrador e, mais tarde, brigadiano.

Ávila

Após mostrar qualidade atuando pelo Esporte Clube Brasil, Ávila foi contratado pelo Internacional de Porto Alegre. Ele seria uma das peças essenciais da máquina bem azeitada conhecida como o “Rolo Compressor”. Jogando entre Assis e Abigail, Ávila compunha a linha média dos três “ases” escarlates.

Vicejando nas sombras do ataque onde brilhavam Tesourinha, Villalba e Carlitos, o espírito combativo de Ávila, que além da têmpera para inibir os ataques rivais tinha no passe longo uma das suas principais virtudes, era a garantia silenciosa de que o Inter sairia de campo vencedor.

Se atentarmos a detalhes sobre a vida pessoal do craque, é possível dizer que a boemia nunca foi um escolho para que Ávila evoluísse em sua carreira. Apreciador do ambiente lúgubre dos botequins e lupanares da capital gaúcha, no dia dos jogos do Inter Ávila invariavelmente descortinava o seu futebol sóbrio e elegante sobre o tapete verde, conquistando o respeito e a admiração dos aficionados esportivos da metrópole e fora dela.

Assim sendo, o talento de Ávila acabou chamando a atenção de clubes do centro do país, e em 1947 ele trocou o frio da província rio-grandense e o Inter pelo Rio de Janeiro e o Botafogo. No ano seguinte, sob a batuta do presidente Carlito Rocha e do técnico Zezé Moreira, o alvinegro realizou grande campanha no campeonato carioca. Compondo a linha média ao lado de Rubinho e Juvenal, o vulto imponente de Ávila foi uma constante no time que acabou levantando o caneco após vencer o Vasco da Gama na final.

Mas nem tudo foram flores na passagem de Ávila pelo clube de General Severiano. No episódio da morte da sua esposa, os dirigentes do clube, talvez ávidos pela valiosa presença de Ávila em campo, acabaram ocultando o fato do atleta.

Após o jogo, quando finalmente soube da tragédia, em um instante Ávila foi conduzido do pedestal dourado da fama rumo ao mundo subterrâneo e maquiavélico que há no futebol. Percebendo ter sido manipulado em razão de interesses mesquinhos, o jogador explodiu em um acesso de fúria.

Junto com as portas e os bancos do vestiário, alguma coisa dentro do peito de Ávila se quebrou para sempre. Uma coisa que nem mesmo a lembrança do seu terno e querido amor poderia trazer de volta.