Foi inaugurado no sábado (17), o Museu de Território: O Caminho da História, na localidade de Galópolis, em Caxias do Sul (RS). Com apoio da Lei de Incentivo à Cultura da Prefeitura de Caxias do Sul, patrocínio da FSG – Centro Universitário da Serra Gaúcha e iniciativa do Instituto Hércules Galló, o projeto é o primeiro no Rio Grande do Sul com essa concepção. Tendo curadoria da pesquisadora e museóloga Tânia Maria Zardo Tonet e fruto de um extenso trabalho de pesquisa e resgate de fotos e informações históricas, o Museu de Território é um museu a céu aberto que compõe-se de 15 pontos do patrimônio cultural material e imaterial existentes em Galópolis. O objetivo é valorizar os bens culturais tangíveis e intangíveis da região, promovendo a sua preservação e o envolvimento e apropriação por parte da comunidade.

Em seu pronunciamento, Charles Tonet, da 3 Tempos – Memória Corporativa, filho da museóloga e parceiro dela no projeto, enalteceu que o Museu de Território envolve história, memória e turismo. “O grande segredo deste projeto é o envolvimento da comunidade. Ele é entregue para Galópolis, mas só vai permanecer se Galópolis abraçar esse projeto e entender que ele é uma iniciativa que visa trazer qualidade de vida, desenvolvimento econômico e social para a comunidade. Trabalhamos nele algo que Caxias do Sul tem, que é o patrimônio histórico e sua memória, e que pode ser aproveitado do ponto de vista do turismo e da exploração econômica. Essa é a visão central do museu. Se conseguirmos articular as pessoas e trabalhar em conjunto, podemos chegar a produtos como esse.”

A secretária municipal do Turismo, Renata Aquino Carraro, que representou o prefeito Daniel Guerra na solenidade, também enfatizou a importância do envolvimento da comunidade como propulsor para o projeto acontecer. “Estamos num dia muito especial, que marca a história desta comunidade. É um novo atrativo para o município. Isso graças à união de esforços entre a iniciativa privada, o poder público e a comunidade. Damos o pontapé inicial para um importante passo para Galópolis e acreditamos no potencial desta comunidade” afirmou a secretária.

Após agradecer às pessoas e empresas que oportunizaram viabilizar o projeto, José Galló, presidente do Instituto Hércules Galló, reforçou que as boas ideias – como a do Museu de Território – têm como desafio serem transformadas em iniciativas concretas. Ele também lembrou que, quando o projeto do museu começou a ser idealizado, era o segundo do Brasil com essas características e que, hoje, já existem algumas iniciativas no país, mas certamente esse é o primeiro da região Sul.

“É importante pensarmos por que somos o que somos e por que essa comunidade é o que é. Ela é o que é porque recebeu empreendedores, pessoas com valores, trabalho e valorização da família que a diferenciaram. E hoje essa região é absolutamente diferenciada no Rio Grande do Sul. Mas a minha grande preocupação é sempre a preservação desses valores, como perpetuá-los para as novas gerações. Acredito que os museus, assim como a educação, têm um papel importante nisso. A gente só consegue construir o futuro se conhecemos e aprendemos com o passado. Isso para mim é o motivo de mantermos e revigorarmos as coisas boas e os valores que nos trouxeram até aqui”, destacou o empresário em seu pronunciamento, reforçando que um dos objetivos do empreendimento criado em Galópolis é trazer desenvolvimento econômico para a comunidade.

O projeto do Museu de Território
Alicerçado na trajetória e no legado do italiano Hércules Galló, pioneiro da indústria têxtil na Serra Gaúcha, o projeto iniciou com a musealização das duas casas onde o empreendedor e sua família viveram, inaugurados em 2015 e que compõem o marco inicial. No sábado, foram entregues à comunidade os outros 14 pontos que integram o núcleo do museu a céu aberto. Os locais foram demarcados com totens explicativos que mapeiam o território, oportunizando a manutenção da história viva para ser contata por e para todos que ali moram e visitam.

A intenção da museóloga Tânia Tonet ao conceber o projeto foi trazer uma forma diferente e envolvente de transmitir esse resgate histórico, onde o foco não são objetos históricos e sim o território em si e toda a sua riqueza cultural. O conceito de museu de território, ainda pouco explorado na museologia no Brasil, tem como essência musealizar o território e territorializar o museu. A proposta é adepta à Nova Museologia que, diferentemente do conceito tradicional centrado num edifício, nas coleções e num público-alvo, amplia seu olhar para todo o patrimônio material e imaterial regional, passível de preservação e, acima de tudo, propõe um diálogo com a comunidade em que está inserido, numa lógica de inclusão e partilha. Seguindo o conceito do museólogo francês Hugues de Varine Bohan, o acervo abrange o patrimônio cultural e não a coleção, como tradicionalmente ocorre.

“A Tânia criou o Museu de Território baseado em um conceito muito inovador no Brasil, sendo talvez o primeiro museu a céu aberto do Brasil cuja comunidade da qual ele retrata tenha tido participação efetiva na eleição dos testemunhos históricos, tanto no que se refere a patrimônio edificado quanto ambiental, que ela considera realmente importante para si e que devesse passar pelo processo de musealização. Foi um trabalho realmente belíssimo e inovador, fruto de um ideal que ela sempre perseguiu: aliar a preservação da memória e impulsionar o futuro através de um produto que pudesse ser usado como atrativo e, consequentemente, proporcionasse a geração alternativa de renda para Galópolis”, pontua Charles Tonet.

Por que transformar Galópolis num museu a céu aberto
Galópolis constitui-se num cenário autêntico, um caso raro de uma comunidade inteira passível de preservação. Além disso, possui características curiosas, como o fato da implantação de um núcleo nitidamente urbano em um ambiente rural. Isto se deve ao processo de industrialização iniciado em 1894, quando jovens tecelões vindos da Itália fundaram o primeiro lanifício, nos moldes de uma cooperativa, após perceberem que a área não era propícia para a agricultura e que os dois rios do lugar possibilitariam a movimentação de máquinas e a geração de energia elétrica, além dos serviços de lavagem e tinturaria. Em 1903, Hércules Galló juntou-se ao grupo de empreendedores, assumindo o comando do lanifício e liderando ações que garantiriam à vila um significativo progresso, cujo ícone é a construção de uma vila operária, com casas, construídas lado a lado, que eram alugadas por valores simbólicos, garantindo a manutenção e atração de mão-de obra.

A partir daí e, mesmo após a morte de Galló, a vida da comunidade gravitou em torno do Lanifício, a exemplo da Rheingantz, da cidade de Rio Grande, com modelo fabril trazido pelos fundadores Carlos Guilherme Rheingantz, Miguel Tito de Sá e Hermann Vater, que foi inspirado na Alemanha e em viagens efetuadas à Inglaterra da Revolução Industrial. Em homenagem a Galló, o povoado passou a denominar-se Galópolis, em 1914, com a criação do 5º Distrito de Caxias, pelo intendente José Penna de Moraes. Todo esse caminhar, expresso em testemunhos arquitetônicos, peças, fotografias, documentos e na memória de seus habitantes, está registrado no Museu de Território.

O museu constitui-se de marcos de testemunhos arquitetônicos e da paisagem natural, de modo a percorrer o processo histórico vivido pela comunidade de Galópolis. Seguindo os princípios museológicos que norteiam essa tipologia, o projeto foi discutido com a comunidade, em reuniões realizadas na Sala Multiuso do Instituto Hércules Galló. Os locais elencados são capazes de contextualizar a história da vila, em seus aspectos econômico, social, político e cultural.

A musealização foi efetuada através da formação de dossiês, cujo registro serve de documentos fotográficos (reproduções de fotos antigas e fotos atuais) e pesquisa em documentos textuais. Não apenas os aspectos arquitetônicos foram alvo da investigação, mas o que os prédios abrigaram, as transformações porque passaram, as vivências que ali ocorreram, a memória dos prédios e de quem os utilizou, enquanto residência, estabelecimento industrial, entidade associativa ou institucional, templo religioso. Os dossiês integram o banco de dados do Museu de Território e constituem a base de informações para os totens, instalados em locais estratégicos, de domínio público, contendo uma síntese da história do local, ilustrados com imagens do passado e do presente. O projeto tem como propósito preservar um sítio histórico de grande relevância para a história econômica e sociocultural da região, não só do patrimônio material como também do ambiente, das pessoas, da fauna e flora existentes, que fazem parte da cultura local.

Os 15 pontos de patrimônio cultural do Museu de Território: O Caminho da História:
Casas do Instituto Hercules Galló
Igreja Nossa Senhora do Rosário de Pompéia
Cascata Véu de Noiva
Vila Operária
Escola Ismael Chaves Barcelos
Prédio do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem
Lanifício Cootegal
Círculo Operário
Cinema
Praça Duque de Caxias
Casa Straghioto
Árvore das Garças
Arroio Pinhal
Armazém Basso
Prédio Cooperativa de Consumo

Fonte: Invox Mais Comunicação / Foto: Fabio Grison / Divulgação