O Sindicato das Indústrias de Material Plástico do Nordeste Gaúcho (Simplás) outorga nesta sexta-feira (23), a partir das 19h30, no Restaurante Sica, da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul (RS), a 11ª edição do Mérito Plástico Pietro Zanella. Os homenageados de 2019 serão os empresários Leocádio Nonemacher (Sulbras Moldes e Plásticos) e Lourenço Stangherlin (Anodilar Indústria de Utilidades Domésticas). A ocasião coincide com as solenidades de apresentação da diretoria para o triênio 2019-2022 e comemoração pelos 30 anos de fundação do sindicato.

Instituído em 2002, o Mérito Plástico Pietro Zanella rende homenagem ao italiano naturalizado brasileiro que foi pioneiro da indústria de transformação de plástico no Rio Grande do Sul. Zanella fundou sua primeira empresa do gênero em Caxias do Sul, em 1949, aos 28 anos.

A honraria criada pelo Simplás tem o objetivo de agraciar pessoas físicas e/ou jurídicas que tenham se destacado em ações que visem o desenvolvimento da indústria do plástico, a promoção dos valores humanos ligados a suas atividades e a preservação do meio ambiente. A outorga é feita em regime bienal. Excepcionalmente, nesta 11ª edição, foi postergada em um ano, justamente para coincidir com a data especial comemorativa às três décadas de atuação da entidade.

“Os homenageados deste ano são reconhecidos pelo seu sucesso como empreendedores, contribuindo para o crescimento e a prosperidade de toda nossa região como um dos principais polos de transformação plástica do Brasil e garantindo a geração de emprego e renda para centenas de famílias, com sustentabilidade econômica, social e ambiental. Além disso, são dois grandes líderes e amigos que entregam muitas horas de trabalho além daquele realizado na empresa para a atividade associativa. Graças a pessoas como o Leocádio e o Lourenço, todo nosso setor fica mais forte”, afirma o presidente do Simplás, Gelson de Oliveira.

Excelência de classe mundial
Natural de Linha Sebastopol, interior de Caxias do Sul (RS), filho de trabalhador da metalúrgica Eberle, Leocádio Nonemacher começou a trabalhar aos 14 anos, como office-boy da empresa Engemaq. A partir da oportunidade em escritório, o desejo inicial de cursar engenharia, que incluiu até um período de estudos no Senai, foi substituído pela graduação em Ciências Contábeis, com especialização em Gestão Financeira. “Acabei fazendo o caminho inverso de muitos empresários da região: comecei pela administração financeira e depois fui para a fábrica. Costumo dizer que sou engenheiro por vocação e administrador por formação”, revela.

A primeira chance, após o serviço militar, foi concedida pelo empresário José Alceu Lorandi, na Indústria de Matrizes Belga. O movimento teria consequências profundas na carreira de Nonemacher. Em 1984, diante dos primeiros indícios da abertura do mercado nacional para bens de consumo, surgiram novas possibilidades para o setor de transformação. Foi a senha para a Sulbras Moldes e Plásticos, então uma divisão originada da necessidade de testes de injeção para os moldes da Belga, ganhar vida própria. Nos anos seguintes, os negócios foram reestruturados. A empresa escolheu o caminho da prestação de serviços para produtos técnicos com desenvolvimento de ferramentaria própria, atuando desde a fase de concepção dos produtos, que mais tarde a levaria a níveis de excelência de classe mundial.

A década de 1990 trouxe o conceito de downsizing, com o fim da verticalização e o início da terceirização nos processos industriais. As grandes empresas passaram a se concentrar no chamado core business. Para quem soube aproveitar, o período significou forte crescimento comercial, com abertura de mercados e advento das certificações de qualidade.

“A Sulbras cresceu vocacionada para a subcontratação industrial. Hoje até importa e integra componentes, presta serviços de alta complexidade. Desde o início, sempre abraçamos os desafios apresentados pelos nossos clientes, porque os desafios geram conhecimento”, comenta Nonemacher. O grande golpe veio com a perda do sócio Eloy Dannenhauer, falecido súbita e precocemente, no início dos anos 2000. Todo negócio teve de ser repensado. A competência da equipe bem treinada e o envolvimento dos filhos de Eloy, Rafael e Liciane, fizeram toda a diferença. A empresa deu uma guinada sem precedentes. Investiu em equipamento de primeira linha e apostou no desafio de operar em classe mundial. Deu certo: o mercado respondeu e surgiram novos projetos. Clientes praticamente exigiram a instalação de unidades em outras cidades e estados.

Pelo menos três diretrizes foram estabelecidas para o futuro do negócio: trabalho constante em novos desenvolvimentos, atenção permanente aos competidores externos e melhoramento contínuo para manter a competitividade – inclusive no exterior. Um exemplo do sucesso na aplicação das ideias é o desenvolvimento de fornecedores de componentes em Israel e na Alemanha, para a montagem no México, de um veículo vendido pela Chrysler nos Estados Unidos.

A Sulbras chega a 2019 com cinco unidades instaladas em Caxias do Sul (RS), Sapucaia do Sul (RS), Joinville (SC), Salto (SP) e Cabo de Santo Agostinho (PE) – esta última, um case de decisão tecnológica para atendimento de demandas específicas e de alta complexidade da FIAT, na linha de produção do Jeep. São aproximadamente 600 funcionários (metade deles na matriz, em Caxias do Sul) e mais de 70 máquinas injetoras distribuídos entre cada uma delas.

“Sempre procuramos desenvolver a equipe. É uma equipe que pensa diferente, mas age igual. O questionamento é muito importante, tem de haver sempre. E também é importante um pouco de descentralização”, avalia o empresário. Aos 55 anos, Leocádio Nonemacher é casado com Gisela, 51, pai de Elisa, 20, e de Eduardo, 30. Um conselho que repete aos filhos? “O sucesso do passado não garante o futuro”.

Obsessão pela inovação
Integrante do grupo que participou da fundação do Simplás, Lourenço Stangherlin esteve perto de jamais chegar a conhecer o sindicato. O então jovem estudante veio para Caxias do Sul (RS) em 1976, despedindo-se de uma família de seis irmãos e quatro irmãs, a fim de cursar o ensino médio que não estava disponível na terra natal, Nova Pádua (RS). A etapa seguinte seria a faculdade de Administração de Empresas na Universidade de Caxias do Sul (UCS). E quase ficou só nos planos.

Aos 18 anos, Stangherlin conseguiu o primeiro emprego. Em uma metalúrgica. Até então, a ferramenta mais complexa – ou perigosa – que já conhecera era a enxada. Para trabalhar na roça, na agricultura familiar. O primeiro encontro com a indústria não foi nada auspicioso. Durante a operação de uma máquina, em um vacilo, acabou perdendo parte do dedo indicador da mão direita.

“Fiquei muito abalado. Queria largar tudo e voltar para Nova Pádua. Não queria mais saber de fábrica. Só continuei aqui porque minha mãe incentivou muito”, revela.

A decisão de insistir foi recompensada com uma oportunidade na Triches Ferro e Aço que se transformaria em 15 anos de experiência em vendas e um relacionamento que permanece firme até hoje, só que agora entre cliente e fornecedor. “Ali foi uma verdadeira escola de mercado. Ali conheci o mundo”, afirma.

Após uma primeira tentativa como livre empreendedor, desfez a sociedade e decidiu recomeçar tudo do zero. Surgia, assim, no ano 2000, a Anodilar Indústria de Utilidades Domésticas. O primeiro produto, até hoje no catálogo, foi um fechador de pratos descartáveis de alumínio. Anos mais tarde, já mergulhada em ideias e artigos de design avançado, a companhia evoluiria para a produção das charmosas embalagens de alimentação que os japoneses chamam de bentobox.

A nova empresa apostou em área comercial reforçada, investimentos em marketing, redes sociais e em atenção especial à assistência técnica. O catálogo que atualmente exibe cerca de 300 produtos foi cuidadosamente cultivado com iniciativas como o programa Ideias em Ação, que incentiva e remunera a criatividade dos funcionários, e o trabalho conjunto de um Comitê de Produto. A exigência é por itens inovadores, capazes de chamar atenção e agregar valor às expectativas do cliente.

“Sempre buscamos o diferente. Isso, aliás, é uma coisa que me incomoda: como empresários, não podemos ficar sempre fazendo as mesmas coisas e esperando resultados diferentes. Temos de ampliar nossa visão, nosso conhecimento, buscar novas referências, olhar o que o mundo está fazendo e enxergar a inovação. Temos de ser mais criativos e também ter a coragem de fazer as mudanças quando elas se tornam necessárias”, reflete.

E no caso de Stangherlin, as ideias não ficaram só no discurso. A primeira ousadia começou quando as duas filhas mais velhas praticamente se convidaram para entrar no negócio, então aos 14 anos. Foram contratadas a um salário de R$ 600. Hoje, ambas, Mariana e Gabriela, ocupam cargos diretivos e têm ampla autonomia para decisões e questionamentos ao fundador.

A segunda, possivelmente ainda maior, e impulsionada por elas, veio há alguns meses. Quando, de olho nas estratégias de expansão internacional, a Anodilar submeteu-se a um processo de rebranding. E tornou-se AND. Sob o guarda-chuva da nova marca estão as linhas PRO (de maquinário profissional), STANG (equipamentos de uso doméstico de alto padrão) e UG (Utilidades Gourmet). Hoje, conta com quadro de 84 colaboradores e produtos distribuídos para cerca de 6 mil clientes de 11 países nas Américas e Europa.

“O plano é crescer e estamos preparados para isso. Temos bons parceiros e a tendência é crescer muito”, projeta o empresário. Lourenço Stangherlin, 60 anos, é casado com Ivete, 58, e pai de Mariana e Gabriela, 34, e Luciana, 27. O ensinamento às parceiras de negócio: “Máquina se compra, se vende, se troca. Mas as pessoas têm que ser preparadas”.

Fonte: Assessoria de Imprensa / Foto: Divulgação